REVENDO A CAPELA Clerisvaldo B. Chagas, 4 de setembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.100   A primeira ca...

 

REVENDO A CAPELA

Clerisvaldo B. Chagas, 4 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.100



 

A primeira capela em homenagem à Senhora Santana, em Santana do Ipanema, remonta ao ano de 1787 (Século XVIII). Construída pelo padre Francisco Correia nas terras do fazendeiro Martinho Rodrigues Gaia, a capela fora inspirada pela esposa do fazendeiro Ana Tereza, primeira devota da santa na região. Ana Tinha pedido ao padre uma imagem de Senhora Santana e que ele trouxera da Bahia.  Nada mais justo de que a construção da capela para posterior entronização da imagem desejada.  E a capela fora inaugurada também com a imagem do Cristo Crucificado, esculpido pelo padre Francisco Correia, além de outras ações. Sua belíssima arquitetura para a época, ainda hoje impressiona. Só foi reformada em 1900.

Pelo nosso conhecimento, somente no ano de 1900, a capela recebeu a sua primeira reforma. Além de um resumido registro em livro de outro escritor, temos uma foto da capela em preto, com movimento de procissão também. Após essa foto de 1900, vamos encontrar outra foto da igreja, em 1020, já reformada e caiada de branco. Afora isto, somente a grande reforma do final dos anos 40, ocasião em que foi construída a imensa torre que ainda hoje perdura na sua forma externa. A Igreja Matriz de Senhora Santana sofreu modificações internas, após a queda completa do seu forro ainda no final da gestão do padre Luís Cirilo Silva. Depois sofreu mais algumas significativas modificações na gestão do saudoso padre Delorizano. Quer dizer, não é mais internamente a original da década de 40.

Entretanto, a parte externa, em relação a degraus, jardins, iluminação, foi sendo modificada aos poucos, desde mesmo antes das remodelações internas. Mas a sua arquitetura geral, baseada na capela primeira de 1787 (Ver figura abaixo), nunca foi modificada. A Igreja Matriz de Senhora Santana, ainda continua sendo a maior atração turística do nosso município e o seu mais belo cartão postal. A propósito, foi dentro da nave, logo após a entrada interna para o Salão Paroquial contíguo onde foi sepultado o tão querido padre Luís Cirilo, o mais carismático de todos os que por ali passaram.  Após o falecimento do padre Luís Cirilo, as andorinhas em bando que frequentavam o alto da torre da Matriz, desapareceram e nunca mais retornaram para a alegria costumeira.

ORIGINAL CAPELA DE SENHORA SANTANA FUNDADA EM 1787. (LIVRO “230, ICONOGRÁFICO AOS 230 ANOS DE SANTANA DO IPANEMA/FOTO OU PINTURA: MARINA FALCÃO/ACERVO DO AUTOR.

  CANCÃO-DE-FOGO Clerisvaldo B. Chagas, 3 de setembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.099   No sertão alago...

 

CANCÃO-DE-FOGO

Clerisvaldo B. Chagas, 3 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.099



 

No sertão alagoano é Cancão, em outras regiões também é chamado: Cancão-de-fogo, gralha-cancã, Quem-quem, cancão de nuca branca. O cancão é uma ave (Cianocorax cianopogor) típica do sertão nordestino, mas que o desmatamento o obrigou a emigrar para o Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro. É muito barulhento na caatinga e talvez o seu nome tenha vindo do som aparente do seu canto. O cancão é muito inteligente e habilidoso no voo acrobático. Qualquer coisa diferente que avista na caatinga, sai avisando a todos os moradores, animais e humanos. O caçador experiente costuma estar atento às manobras do cancão.  O próprio cangaceiro Virgolino Ferreira, escolado sertanejo das caatingas, sabia de todos os avisos do bicho em questão e de todos os outros, do seu habitat. Isso o ajudou muito nas suas lutas contra as forças volantes em todos os estados onde atuava.

O cancão come insetos, fruta de mandacaru e praticamente tudo, até ração de galinha, se encontrar. Faz o seu ninho nas árvores mais altas da caatinga, forra o piso com folhas secas e choca três ovos para enfeitar a mata com seus cancãozinhos. Na sociedade sertaneja, é costume apelidar poetas repentistas emboladores ou violeiros com apelidos de pássaros cantadores. E cancão já foi apelido de muitos desses vates. Uma das grandes feras da poesia escrita, com alguns livros publicados com suas poesias sertanejas divinais, chamava-se Cancão.  O título Cancão-de-Fogo também está em folheto de cordel, de grande sucesso no passado e ainda no presente.

Todos os animais da caatinga merecem estudos profundos, porém, alguns são especiais e estão enraizados na sabedoria popular trazida da roça, dos campos das matas que muitas vezes serve de provérbio. Entre os especiais estão a seriema, a cauã, o cancão, a rolinha, o bem-te-vi.  E por falar em rolinha, talvez o pássaro mais querido do sertão, surgiu hoje, primeiro de setembro, tempo úmido e nublado, um casal de rolinha caldo-de-feijão catando pedrinhas defronte a nossa casa. É resultado do desmatamento e a adaptação dos animais no ambiente urbano. Voltando ao assunto inicial, preste atenção na figura abaixo do cancão, sua pose e majestade.

CANCÃO (PINTEREST).

  O MOTOR DIABÉTICO Clerisvaldo B. Chagas, 2 de setembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.098   A antiga Esc...

 

O MOTOR DIABÉTICO

Clerisvaldo B. Chagas, 2 de setembro de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3.098

 



A antiga Escola Cenecista Ginásio Santana era dura nos seus propósitos do Ensino, mas o ambiente às vezes trazia fatos divertidos. Nós, santanenses, vivemos tempos difíceis em relação à luz elétrica da cidade. O Ginásio Santana que funcionava à noite, aqui, acolá tinha problemas com a falta de energia e várias vezes os alunos foram mandados para casa por falta de luz no meio das aulas ou porque a energia estava passando da hora de chegar. Isso fez com que a direção da escola adquirisse um motor próprio. Antes um pouco do início das aulas tinha alguém encarregado de “virar” o motor. Virar era o termo usado que significava “botar o motor para funcionar”.  Nunca fomos lá até a casinha do motor para verificar o ato. Mas temos a impressão que era o bedel quem manobrava o motor. Sim, bedel era o encarregado da limpeza da escola, uma espécie de zelador.

Os alunos da oitava série, quase sempre eram adultos. Entre eles havia o Jorge de Leusinger, cujo pai era o senhor Leusínger, proprietário do “Hotel Avenida”, perto do prédio dos Correios e do outro lado da avenida. Quando criança estudando no Grupo Escolar Padre Francisco Correia, já havia presenciado o adulto ou quase, Jorge se exibindo a correr sobre os pilares do muro baixo da escola. E corria pulando de pilar em pilar como se estivesse no plano. Aquilo representava uma falta de censo, pois um passo em falso resultaria morte imediata. Ficávamos com o Credo na boca. Pois bem, o Jorge era muito presepeiro.

Uma noite o motor do Ginásio não quis virar. Nada dava jeito. Mandaram os alunos para casa e descobriram que o motor fora sabotado. Mais tarde, correu o boato interno de que alguém colocara açúcar no motor para que não houvesse aula. Tomaram conta do Ginásio Santana: investigação doméstica, risos frouxos e gargalhadas. A culpa foi cair na cabeça do famigerado Jorge de Leusínger. Tudo indicava que sim, porém não havia provas. Quem sabia era cúmplice da malandragem e ficara de boca piu. E assim passamos alguns dias sem aula, aguardando a limpeza da máquina de luz. (Jorge não está mais no mundo dos vivos).

Quem ainda se lembra do fato, compara as doenças que havia no passado e no presente. E todos apontaram que o motor estava diabético.

GINÁSIO SANTANA EM 1963, EM TORNO DA DATA DO FATO ACIMA (FOTO: DOMÍNIO PÚBLICO/ACERVO DO AUTOR).