SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
FOI ARRETADO! Clerisvaldo B. Chagas. 14 de outubro de 2024 Escrito Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.126 Não vacilei no co...
FOI
ARRETADO!
Clerisvaldo B. Chagas. 14 de outubro de
2024
Escrito
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.126
Não vacilei no convite no dia da Padroeira do
Brasil e fui bater na Região rural do “Alto d’Ema”. Nunca mais tinha saído da
cidade e, sempre e para sempre o campo me faz um bem danado! Parte da família e
alguns amigos na chácara do casal Zé Ailton e Toinha (cunhado e irmã) me
proporcionaram grande felicidade no dia da Santa. Fui com o Ivan (Caju) onde já
aguardavam os conhecidíssimos Cecéu, Zé de Pedro e mais. Bebendo somente água e
cafezinho fui ficando na conversa de muita comida e bebida, entre piadas e mais
piadas que faziam parte de jornadas santanenses. Voltei encantado com a chácara,
à margem da rodovia de asfalto recente rumo aos Carneiro e Senador Rui Palmeira
– Sonho antigo só realizado no Século XXI.
A beleza da Chácara me chamou atenção, a
piscina, o pequeno açude... Porém, como
sempre, a atenção dobrada na vegetação, no relevo, no tempo. Tivemos um
excelente e prolongado inverno com chuvas moderadíssimas, alternada com o Sol.
Isso foi muito bom para a lavoura e para o rebanho, entretanto, para barragens
e barreiros foi ruim. O acumulado d’água não dá para atravessar o período seco
até o próximo inverno. Assim volta o pensamento sertanejo em direção às
trovoadas, uma esperança e uma incerteza no que vem aí entre novembro e
janeiro. Mas meu amigo, para esse velho geógrafo o Sertão é belo molhado, o
Sertão é belo ressequido, O Sertão é belo de todo jeito como a mulher bonita
que continua bonita independente das suas vestes. Gostou?
E como não poderia deixar de ser, encontramos o
“Hipermercado Nobre” pelo nosso caminho –
ambiente este, digno de figurar nas melhores capitais do País – não
resistimos a uma foto dali em direção ao antigo “serrote do Gonçalinho” ou
atualmente “serrote do Cristo” ou das “Micro-ondas” onde recentemente formou-se
o Bairro Santo Antônio em suas faldas a barlavento. Está aí ao fundo da foto
com sua vegetação crestada com raras nuances verdes, representando o restante
do Sertão de Nosso Senhor Jesus, o Cristo.
Quão prazeroso é viajar pelo Sertão!
SERROTE DO GONÇALINHO VISTO DO HIPERMERCADO
NOBRE. (FOTO B. CHAGAS).
O DESFILE Clerisvaldo B. Chagas, 11 de outubro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.125 Era um tempo feliz...
O
DESFILE
Clerisvaldo B. Chagas, 11 de outubro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.125
Era um tempo feliz, mas difícil. Não havia
médico em Santana do Ipanema e no Sertão. As pessoas quando adoeciam apelavam
para as ervas caseiras, as garrafadas ou rezas das benzedeiras ou rezadeiras.
Quando a mulher estava perto de dá à luz, era assistida por parteiras que naturalmente
traziam este dom, tanto na cidade quanto no campo. A parteira, tinha uma
experiência extraordinária e sabia de orações poderosas. Havia parteiras no
Sertão que contavam com centenas e centenas de partos sem perder jamais nenhum
bebê. Lá em casa mesmo fomos dez filhos somente à base de parteira, cujo nome
já esqueci. Morava no início da Rua São Pedro e parece que era a vó do
conhecido Major Cavalcante. Pessoa humilde e altamente prestativa.
Já os serviços religiosos na zona rural, os
padres utilizavam animais para seus deslocamentos: o cavalo ou o burro. Assim
era a assistência aos enfermos, os casamentos e batizados que aconteciam nos
povoados e sítios. Por sinal, em nosso livro “Canoeiros do Ipanema”, temos o
registro do padre Bulhões atravessando o rio, de canoa, após acomodar sua burra
viageira nesse tipo de transporte. A burra sentada e o padre corajoso
enfrentando a fúria das águas, após viagens pelos sítios rurais. A situação foi
mudando. No início da década de 60, ainda se contava os automóveis em Santana
do Ipanema. Foi aí que uma surpresa tomou conta da cidade. De repente, um
desfile de 60 jipes Willys aconteceu pela Avenida Coronel Lucena até o Comércio
da cidade. E se não me engano era dia de
Carnaval. Disseram que era sobra de
guerra e vieram para quem quisesse os adquirir e acelerar o progresso da urbe.
O único médico da cidade comprou um jipe. O
padre, comerciantes, fazendeiros, empresários aproveitaram a oportunidade.
Bicho difícil de quebrar, o peste do jipe de guerra acionou mesmo o progresso
latente de Santana e do Sertão. Além de muitos outros serviços importantes
facilitados pelo veículo, o padre e o médico agilizaram seus atendimentos no
campo. E como a década era mesmo de ouro, logo chegou a água, a luz, a
televisão, a ponte sobre o Ipanema, o hospital e tantos outros benefícios.
Vivemos e registramos a história sertaneja alagoana, o que nos traz o consolo e
a certeza de dever cumprido.
Orgulho em ser sertanejo nordestino!
JIPE WILLYS, IMAGEM.
QUEROBINO Clerisvaldo B. Chagas, 10 de outubro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.124 Os mais velhos falav...
QUEROBINO
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de outubro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.124
Os mais velhos falavam em Santana do Ipanema,
que o homem mais mentiroso da região era tal Querobino. Segundo uns poucos,
esse indivíduo teria trabalhado no DNER – Departamento Nacional de Estradas de
Rodagem, Residência Santana. Mentia por lazer. Muito embora no meu tempo o
maior de todos era o Lulu Félix< mas deixemos o Lulu para um outro trabalho.
Pelo que contam, Querobino era mais ou menos como o Lulu, chegava de mansinho
nas rodas de conversa e terminava soltando as deles, muitas vezes a pedido da plateia
sequiosa. Lembro com clareza apenas uma das suas inúmeras mentiras soltas no
mundo. Certa vez fora caçar e ficara numa
espera aguardando bando de cardinheiras que iriam chegar à bebida. Naquele
momento teve a ideia de pegar muitas cardinheiras de uma vez. Dirigiu-se a um
lajeiro próximo e passou leite de jaca em toda a superfície do lajeado. Aguardou
até a hora certa quando as aves migratórias começaram a chegar e posarem no
lajeiro. Sentavam e ficavam grudadas. Quando ele viu que o lajeiro estava
repleto de aves presas., correu para lá com um saco. Mas... Qual não foi a surpresa! As cardinheiras, ao
pressentirem que seriam capturadas fizeram tanta força para se despregarem que
carregaram o lajeiro pelos ares.
O homem se tornou um personagem muito querido e
solicitado nas palestras entre amigos. Estava bastante famoso na região
sertaneja. E num tempo em que não havia televisão, as mentiras de Querobino
divertiam jovens e adultos que procuravam rir de graça.
Certa feita o homem se aproximou de uma roda
grande de pessoas que falavam de inúmeros assuntos sérios. Vendo Querobino
chegar tristonho e sem falar com ninguém, disseram: “Querobino, rapaz, que bom
você ter chegado, conte aí uma mentirinha”. E o homem com ares de tristeza: “Hoje
não posso, acabo de perder a minha mãe e estou fazendo uma vaquinha para o seu
enterro. Naquele momento a turma começou a lhe dá os pêsames, metendo a mão no
bolso e enchendo-lhe às mãos de dinheiro. Querobino agradeceu a todos e foi
saindo. Alguém se lembrou de perguntar com o homem já distante: “Querobino,
quando é o enterro? E ele:
“ Não sei! Vocês não me chamaram para contar
uma mentirinha!

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.