SOBRE MIM

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.
RABO A NAMBU Clerisvaldo B. Chagas 7 de novembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.144 . Não senhor, meu am...
RABO A
NAMBU
Clerisvaldo B. Chagas 7 de novembro de
2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.144
.
Não senhor, meu amigo, não havia entrega de
papel impresso para fazer prova. Não existia isso, ainda. Quando era tempo de
prestar exame, nós, alunos do Ginásio Santana, tínhamos que comprar uma folha
de papel pautado com duas páginas compridas, verticais. Muitos professores faziam dessas folhas um
verdadeiro jornal. Já o professor Alberto Nepomuceno Agra – meu maior mestre da
Geografia – era comedido. Apesar de dois meses de aula para a época de exame, tinha
o costume de fazer apenas cinco perguntas nas suas provas. E todas às vezes nos
dava uma lição de economia, cortando ao meio a folha dupla e dizendo que
guardasse a outra metade que não precisaria agora. E se quer saber, comprávamos
o papel pautado no Comércio central ou em algumas bodegas.
Perto do Ginásio Santana, havia a bodega de
“Seu Oseas” onde comprávamos o papel de provas, mas que também vendia outras
coisas como “puxa”, um troço doce, comprido igual macarrão, enrolada em papel
manteiga. Grudava nos dentes, mas a gente comia. Seu Oseas, tinha a marca de
uma lua em quarto-crescente, na face. Para nós, garotos da época era muito
gente boa! Quanto à folha dupla do papel de prova, tinha a
vantagem de durante os apertos de matérias difíceis, usarmos “filas” ou
“pescas” no meio das duas bandas. Mas...
Aqui acolá, um colega era flagrado tentando burlar o professor. E aqui,
amigo, paro para soltar uma gargalhada: Seu Oseas nada tinha a ver com isso.
Somente sentimos essa situação mudar, a partir do Instituto Sagrada Família com
o sistema de estêncil.
Apesar da situação da época, a folha de papel
pautado incentivava você a estudar visando preenchê-la toda com seu
conhecimento e, consequentemente ser bem recompensado. Entretanto, a facilidade
que a prova impressa atual oferece, como perda de tempo, clareza e limpeza no
papel, não traz vantagem alguma para quem não estuda, pois este se vê de
repente com uma cuca” limpa diante de uma prova limpa. E voltando ao caso de
“pescar, “filar” ou outro termo mais atualizado, teríamos alguns casos
interessantes a relatar como comédia no flagra, porém, personagens mais velhos
rancorosos gratuitos podem não gostar em estrilos belicosos. É melhor não dá
rabo a nambu.
GINÁSIO SANTANA em 1950. (FOTO: FOMÍNIO
PÚBLICO/ ARQUIVO DO AUTOR/LIVRO 230).
SURPRESA DOIDA Clerisvaldo B. Chagas, 6 de novembro de 2024 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica; 3.143 Como observador...
SURPRESA
DOIDA
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de novembro de 2024
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica; 3.143
Como observador da Natureza, quase caio de
costas ao abrir a porta da rua, ontem pela manhã. O Sol já estava alto e pude
comtemplar no pé de pau-brasil da casa vizinha, três pássaros típicos da minha
adolescência. São muitas dezenas de anos que não me deparava com um bicho
daquele. E com desmatamento contínuo do Sertão, já apareceram na minha rua, bem-te-vis,
rolinhas-brancas, rolinhas caldo-de-feijão... todos esses pássaros fugindo do
desmatamento e encontrando restos de comidas nas ruas e nos lixos da cidade. Ainda
não tinha visto de perto os três anus-pretos que pulavam da árvore para o chão
e vice-versa. Passado o susto da grande surpresa, vi-me novamente rapaz pelas
capoeiras, pela caatinga, pelos quintais longos repletos de pássaros e, entre
eles, o anu-preto.
Quando em nossas caçadas de peteca (estilingue,
baladeira) já sabíamos que dois passarinhos são muito difíceis de matar: o Zé
Neguinho e o anu. O Zé Neguinho, pequeno e preto parece debochar do caçador a
cada tiro disparado, pula para cima e para baixo na cabeça da estaca e grita
como quem está lhe dizendo: “Atire mais seu bestão”. Já o anu-preto não se move
tanto, mas é muito difícil acertá-lo. Daí vai que no Sertão alagoano existe um
ditado que diz: “Quem tem pólvora pouca, não atira em anu”. Uma grande reflexão
para a vida. E diante de tantas coisas passadas, é interessante como voltam à
memória diante de uma cena como a que me deparei. Sim, que a minha casa está
situada a cem metros do rio Ipanema, cujo leito seco é um jardim, porém, de
todo jeito é surpreendente.
Podemos dizer que a presença dos pássaros em
nossas vidas urbanas é verdadeiro colírio e não deixa de ser. Mas, por outro
lado, quando se pensa no desaparecimento das matas, também aperta o coração, pincipalmente
dos que provaram das suas delícias na juventude. O problema é que as árvores
das ruas, no geral, não são frutíferas; o que faz com que a passarada vinda dos
sítios rurais procurem o lixo e as migalhas das ruas ou os quintais que
oferecem frutas variadas. Os ninhos e ovos dessas criaturas divinais estão
ficando cada vez mais fácil de encontrá-los na arborização das avenidas e nos
pátios das escolas. Os passarinhos perderam o medo dos transeuntes e do barulho
das máquinas que diariamente cruzam as vias. Esqueci de dizer: no Sertão não se
come anu-preto, consumidor de carrapato.
E você o que acha?
DONA MARIA Clerisvaldo B. Chagas, 5 de novembro de 2024. Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 3.142 Nos anos 60, estav...
DONA
MARIA
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de novembro de 2024.
Escritor
Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 3.142
Nos anos 60, estava em moda na
cidade, a Revista Nacional “O Cruzeiro”, revistas novelas como “Capricho”,
“Contigo”, “Idílio” e mais uma ou duas. Era dos gibis “Zorro”, “Fantasma”,
“Tarzan”, “Os Sobrinhos do Capitão”, “Popay e muito mais. Além disso,
figurinhas de jogadores de diversos times do Brasil, enroladas em confeito
(bala doce) para colecionarmos. Portanto diversão para moças e adolescentes e
que além disso, havia ainda as revistas de passatempo: “Palavras Cruzadas” e Charadas.
Todas essas coisas chegavam de Maceió, no ônibus ou ainda na “sopa” – que era um tipo de ônibus com bagageiro no
teto externo – de quinze em quinze dias
ou de mês em mês. Ávidos pelas atualizações, comprávamos essas coisas na casa
de Dona Maria, esposa de Seu Quinca Alfaiate, bem pertinho da Cadeia Velha.
Mulher já de idade, Dona Maria
tratava muito bem todos os clientes. Quando o ônibus chegava com as
mercadorias, sua casa se enchia de adolescentes e moças. Revistas novas, cheiro
gostoso de gráfica, de papel novo, embriagava. Quanto as figurinhas de
jogadores, comprávamos e trocávamos as duplicatas com os colegas. Umas erem
raras, com os jogadores mais famosos do momento, Ademir do Vasco, Zizinho, se
não me engano, do Palmeiras. João Neto
de Zé Urbano, João Neto de Coaracy e Vivi de Seu Antônio Alcântara,
colecionavam gibis. O primeiro tornou-se advogado, o segundo, médico, o
terceiro, Juiz de Direito. O que vos escreve, professor e escritor romancista.
No caso de charada, o maio
charadista de Santana e região era o Antônio Honorato ou Tonho de Marcelon que
também era o melhor no jogo de Xadrez. Minha mãe, Helena Braga gostava muito de
Charadas e eu de Palavras Cruzadas. E para ajudar a desenvolver a nossa
leitura, comprávamos na feira os folhetos, folhetos de cordel, ou romances,
daquelas maravilhosas histórias em versos: Cancão-de-fogo, Pedro Malasarte,
índia Necy, João Grilo, o Pavão Misterioso, o Cachorro dos Mortos, A chegada de
Lampião no Inferno e muitos outros da produção cordelista nordestina. O médico
e o juiz, acima, já fizeram passagem. Continua eu e o João Neto Oliveira, como
os sobreviventes dos gibis.
Estamos apenas querendo
colaborar com as histórias do Sertão com suas virtudes e defeitos. Fui.
ÔNIBUS SOPA (IMAGEM
PINTEREST).

Sou Clerisvaldo B. Chagas, romancista, cronista, historiador e poeta. Natural de Santana do Ipanema (AL), dediquei minha vida ao ensino, à escrita e à preservação da cultura sertaneja.