domingo, 13 de janeiro de 2019

DONDE VEM ESSE POETA?

DONDE VEM ESSE POETA?
Clerisvaldo B. Chagas, 15 de janeiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
“Crônica”: 2.038

XILOGRAVURA: MARCELO ALVES SOARES
     Mais uma vez mergulhando no mundo encantado dos repentistas, vamos para três passagens que nos repasses orais, vão perdendo seus autores.
Estava havendo uma cantoria de pé de perede, quando algumas pessoas entraram na sala do desafio. Um dos poetas disse nos seus versos que a “trinca chegaram”. O companheiro rebateu imediatamente:

“Dizer a trinca chegaram
É erro de português
E mesmo só se diz trinca
Se a turma for de três
Donde vem esse poeta
Com dois erros duma vez?”.

     Entrou em cena a filosofia cabocla quando dois cantadores cantavam sobre uma seca que teria acontecido no Maranhão. Um deles terminou a estrofe:

...Quase tudo se acabando.

     O parceiro pegou a deixa fazendo uma estrofe de rima difícil, rica, rara e filosófica:

“Eu tava me sustentando
De fruta de macaúba
Mas o galho ficou alto
Eu não conheço quem suba
De vara ninguém alcança
De pedra ninguém derruba”.

     Em uma cantoria na roça chegava a hora dos elogios, isto é, elogiar as pessoas para arrecadar o dinheiro. Cada um que colocasse notas altas no prato da arrecadação. Foi aí que um pobrezinho chamado Joaquim, depositou o que possuía: apenas uma cédula amassada de um real. O repentista humilhou o coitado para não perder a verve:

“Parece que seu Joaquim
Passou a noite no mato
Com uma faca amolada
Tirando couro de rato
Deixou o rato sem couro
Botou o couro no prato”.

 FIM

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