sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

CUMBUCA

CUMBUCA
Clerisvaldo B. Chagas, 20 de janeiro de 2012

 Andando na caatinga, caçando nas capoeiras, feriando no povoado Pedrão (pé) íamos aprendendo e vivenciando usos e costumes que marcavam a vida. Descobríamos o singelo, o prático, a beleza lírica da ingenuidade louçã. No mundo rural aprendemos a descascar laranja, tangerina, com a unha, dispensando faca; a fazer flauta de talo de abobreira; a provar melão-de-são-caetano, emaranhado nas cercas; a colher bucha natural de lavar pratos no arame das estacas; a fazer farinha, distinguindo mandioca de macaxeira; a pinicar palma; a escovar os dentes com rapa de juá; a distinguir aió, bornal, coxim; montar cavalo em osso; assoviar e ser feliz. Para se capturar pequenos animais, é escolhida uma trilha movimentada pelos roedores. Um retângulo com certa profundidade é cavado no solo, cujo buraco é tampado com talas em forma de gangorra, cobertas de folhas. Arataca, Fosso perfeito para quedas de preás e mocós desconfiados. Por sua vez, a arapuca é uma pirâmide de talas, levantada e escorada em um lado por um gatilho sensível. Serve tanto para pequenos roedores quanto para aves e pássaros. O laço feito de fio de rabo de cavalo, é colocado diretamente na borda do ninho do pássaro, para capturá-lo vivo.
           E nesse meio interessante ainda existe a velha e conhecida cumbuca, forma de armadilha para capturar macacos. Consiste o objeto em uma cabaça previamente limpa por dentro, com um orifício de certo diâmetro, onde caiba a mão fechada de um símio. A isca consiste em uma banana. O macaco, curioso por natureza, encontra a cumbuca, examina tudo, inclusive o interior e tenta retirá-la. A mão fechada com a fruta não pode ser retirada, mas o macaco esquece de largar a isca. A cabaça presa por algum liame captura o animal, quando o caçador vem apanhar a sua presa. Os macacos mais experientes não cometem o erro da tentação. Daí o ditado sertanejo que diz: “Macaco velho não mete a mão em cumbuca”.
          Somos metidos a superiores e os macacos nos imitam. Porém, quase sempre estamos imitando os macacos. Passamos nossas vidas inteiras metendo mãos em cumbucas, muitas delas tão apertadas que dificilmente nos safamos. Elas estão armadas em todos os galhos da árvore da existência: no trabalho, na ambição, no sexo, no poder, no dinheiro e na vaidade que nos escravizam. Quando paramos para uma reflexão, por mais simples que seja, sentimos a maciez da isca, seu aroma escravista, seu diâmetro estrangulador. Sabemos a saída que liberta, robustece e glorifica, dificílimo é largar a banana como macacos novos deslumbrados com ilusão. Vamos juntos, leitor amigo, tentar desprezar a isca dourada, abrir a mão presa e deslizá-la para fora da CUMBUCA.





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