quarta-feira, 4 de janeiro de 2012

ESPINHO DE JUAZEIRO

ESPINHO DE JUAZEIRO
Clerisvaldo B. Chagas, 5 de janeiro de 2012

           O juazeiro, simpática arvoreta do Sertão nordestino, garbosamente assinala sua presença de esperança na Literatura geral na “Terra do Sol”. Primeiramente amada por criadores, vaqueiros, camponeses, que trabalham diretamente com a natureza, depois pelos inúmeros artistas das letras que procuram exaltar o juazeiro como um extrato de virtudes das caatingas. Na verdade nos momentos mais difíceis da inclemência ─ ponto de encontro entre homem, boi e estiagem ─ esteve sempre o juazeiro a oferecer o seu eterno aconchego verde. Além da sua cor escura, como outras árvores sertanejas, o juazeiro também representa mistérios no seu balanço, frutos, folhas e revestimentos cobiçados. Costuma gemer ao atritar os galhos mais fortes, fazendo medo. Alimenta o gado miúdo com seus frutos redondos, amarelos, adocicados. Os caprinos se erguem em duas patas, provando a delícia do macio juá. O brilho dos dentes humanos agradece a rapa do juazeiro, assim como dezenas de pequenos males necessitam das suas infusões.
          Nunca ouvi ninguém falar em seus espinhos. Eles costumam mostrar presença em fileiras de pedaços de galhos secos, que geralmente variam entre trinta e cinquenta centímetros. O espinho é robusto, torneado da base para a extremidade e, camuflado com a terra, parece aguardar, qual manhosa jararaca de folhagem, uma vítima descalça ou de calçado fofo. Sua dor é intensa, grossa e duradoura. Os pequenos galhos secos espinhentos são sempre encontrados no limpo, sob a copa onde o gado costuma descansar. Na verdade, chamamos atenção para os espinhos dos galhos secos que não pertencem mais ao corpo vivo da arvoreta.
          Em nossas peregrinações pelo mundo, nos mais recônditos lugares, na densidade urbana, nos vazios rurais, sempre avistamos e descansamos às sombras dos juazeiros. Eles foram semeados pelo criador e são encontrados nos homens de boa vontade cheios de verdes das folhas protetoras. Mas é bom está atento, também em todas as latitudes, aos perigos ardilosos dos espinhos. Na minha terra se diz: “Saber onde estar pisando”. Diante da violência desenfreada que toma conta do planeta, os furadores roliços multiplicam-se como nunca! Na vizinhança, no trabalho, na vida, secos e separados dos troncos, os ciumentos não querem a nossa chegada à sombra.
         Triste realidade quando um ser humano opta pela condição de emboscar o mundo na condição de ESPINHO DE JUAZEIRO.

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