LAMPIÃO E SEUS BANCOS INVISÍVEIS
Clerisvaldo B,
Chagas, 10 de setembro de 2016
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica 1.571
Nos últimos dois anos de vida, Lampião estava acuado
numa faixa de terras entre Sergipe e Alagoas. Nos estados nordestinos o bioma
caatinga continuava praticamente o mesmo. Imensa extensão de mata arbustiva com
árvores e cactáceas, estradas poeirentas no verão, lamaçais no inverno e curvas
sem fim, estavam livres de cercas e aramados. O favorecimento natural a
esconderijos continuava o mesmo. O território limitado de Virgulino, contudo,
entre outras causas menores, devia-se a duas grandes determinações: o avanço de
rodovias e às novas estratégias de forças volantes cada vez mais ousadas contra
o cangaço. Caçado ferozmente em todos os estados, Lampião jogava a última
cartada em uma faixa de terras com inúmeras fazendas pertencentes a coiteiros
de grande influência como juízes, políticos, comerciantes, industriais,
fazendeiros, alguns chefes de volantes de Alagoas e uma rede de coiteiros
menores, próximos e eficientes. Afora dois comandantes comprometidos, volantes
outras em Alagoas também caçavam sem trégua o bandido, infelizmente em áreas
determinadas de atuações afastadas dos coitos.
Lampião guardava o dinheiro grosso nas mãos de
coiteiros de alta confiança, espalhados em pontos determinados; segredo mais
bem guardado ainda do que os seus fornecedores de armas. Nos últimos dias de
vida o cangaceiro saiu arrecadando joias e dinheiro desses bancos invisíveis.
Ninguém sabe dizer com absoluta certeza se Virgulino deixou de passar por
alguns desses tesoureiros, deixando visitas para a caminhada de passagem final.
Nesse caso, sua partida deve ter feito à felicidade dos que não foram cobrados
pelos depósitos do bandido. Com sua morte na fazenda Angicos a sua riqueza, a
de Maria Bonita e a de Luiz Pedro, fizeram definitivamente a festa de meia
dúzia dos mais espertos das volantes.
Os comandados em geral, ficaram apenas com migalhas
para “o resolver” do dia a dia.
Assim, após vinte anos de saques na hora de gozar a
vida civilizada com o tesouro alheio, o chefe de bando perdeu tudo numa rodada
só, inclusive a vida.
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