NÓS E O TEMPO
Clerisvaldo
B. Chagas, 17 de agosto de 2018
Escritor Símbolo do
Sertão Alagoano
Crônica: 1.966
Diz o povo do meu
sertão que “mês miou, mês findou”. E para melhor entendimento do praciante,
como o sertanejo também diz, é que chegou a primeira quinzena, pronto, o tempo
parece correr para o final do mês. Os dias não miaram com o português do
analfabeto, mas mearam. E de fato parece que quando a coisa não anda muito bem
em nossas vidas, o tempo parece muito devagar e depois acelera a jornada quando
chega tal dia 15. Quem vive da agricultura e de um pequeno criatório, fica desanimado
e muito mais pobre quando as chuvas não chegam com precisão em nosso semiárido.
No sertão nordestino pode-se falar em tudo, porém, o assunto principal naturalmente
é o clima que reflete muito bem a doideira do hoje em dia.
O movimento é grande
em diversas prefeituras do interior, visando à ajuda do governo central, contra
a seca. Nem terminou ainda o nosso período chuvoso e se torna necessário o
berro descomunal do homem do campo. É como dizia certo proprietário rural: “No
Nordeste estamos sempre começando”. Amealha-se alguma coisa por certo tempo e
depois se perde tudo para voltar ao ciclo vicioso que marca o agronegócio do
pequeno. Mas nem todos conseguem persistir na resistência e migram. Migram para
bem longe da terra natal, dando adeus à terra que lhe deu à luz. Tenta-se em
outro canto conquistar a dignidade que as terras e os senhores da terra não
quiseram dar. É assim que se ouve uma triste partida silenciosa e sem a melodia
do Rei do Baião.
E volta-se à triste e
necessária política do caminhão–pipa, tristeza para o Jeca, felicidade para o
político viciado que esfrega as mãos com o contentamento da seca que lhe
arranja escravos. A água mistura-se a humilhação diária, mata a sede, mas não
anima. O caminhão-pipa não chega com o charque, o açúcar, a proteína... Nem a
saúde combalida de velhos, crianças e adultos que batem com o desengano nos
pratos lisos. Agosto “miou”, um miado gigante que destroça o coração do
necessitado. Mas os rios de dinheiro tornam-se riachos para as necessidades da
Justiça que procura um aumento do tamanho de um elefante.
Continuamos vivendo
uma vida egípcia onde a desumanidade ainda reina nos cetros dos faraós.
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