quinta-feira, 2 de agosto de 2018

SEU FRANCELINO


SEU FRANCELINO
Clerisvaldo B. Chagas, 3 de agosto de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 1.956
 
Vassourinha-de-botão. (Foto: Reprodução/Flor de Lis).
No Sertão, todo mato serve para alguma coisa. Para comer, para medicamento, para males físicos via espiritual. Podemos afirmar com toda ênfase que a vegetação sertaneja é uma grande farmácia ao ar livre. Desde a raiz da perigosa urtiga até árvores frondosas como a quixabeira. Desde quando os indígenas sertanejos da colonização passaram para os nossos antepassados brancos seus conhecimentos medicinais que a flora vem sendo utilizada. Mesmo nos tempos atuais, as pessoas sertanejas continuam recorrendo aos conhecimentos dos nossos avós. Aliás, os próprios remédios de farmácia vieram das plantas, primeiros socorros naturais da humanidade. O que se exige hoje é um maior cuidado ao usar a fitoterapia.
Como criança, o mais antigo rezador que cheguei a conhecer e precisar dos seus serviços foi o senhor Francelino. Já em torno dos sessenta anos, morava o homem no lado de baixo da Rua São Pedro. Franzino, educado, paciente e solícito, bastava mandar chamá-lo para o seu comparecimento. Identificado o incômodo, seu Francelino ia até o outro lado da rua sem calçamento e apanhava três pés de “vassourinha”, entre as pequenas plantas da via. Mandava o paciente sentar perto da porta aberta e passava o ramo murmurando as suas orações. Ao final da reza – que nem demorava muito – as plantinhas murchavam e eram jogadas por ele no meio da rua. Em pouco tempo o doente ficava curado e até saía pulando igual a cabrito.
Não queremos fazer propaganda da vassourinha-de-botão (família das Rubiaceae) dizendo que ela é utilizada em chás contra asma, diabete, hemorroidas, varizes, ameba, dermatoses, erisipela, febre, vômitos e tosse. Estamos apenas dando um balanço na vida com tantos males chegando da alma, do interior, da consciência e da boca do Homem. E nas circunstâncias buliçosas da vida moderna, às vezes nos encolhemos e nos acovardamos diante de forças que não sabemos combater. Colocando fogo no cachimbo – igualmente aos pajés das tabas selvagens – deixamos subir a fumaça do espiritualismo alentador...
Ah! Quanta falta faz SEU FRANCELINO.







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