domingo, 24 de março de 2024

 

O CANGACEIRO MOCIDADE

Clerisvaldo B. Chagas, 25 de março de 2024

Escritor Símbolo do Sertão Alagoano

Crônica: 3. 027

 



Para quem gosta dessas ladainhas de cangaceiros, cumpre-me trazer a lume um cabra dos anônimos do bando de Virgolino Ferreira, o Lampião. Neste espaço, tenho me referido ao Filemon, homem do povo, simples, educado e muito calmo, devagar. Não sabemos se era de Santana ou chegara a Santana. Quando conheci o casal, Filemon e Júlia foi em torno dos anos 60. Ela possuía banca na feira, onde vendia comida caseira. Muita desbocada, dona Júlia. Ele, Filemon, era alto, escuro igual à mulher e poderia ser localizado na casa dos 60 anos de idade ou mais.  Sobre sua atividade, só conhecemos o ato de fazer saborosas comidas para festas, para clubes, sendo mestre na feijoada, no abate e preparo de cágados (jabutis), muito apreciados na época.

Ele nos contava: era padeiro em vila Mariana, Pernambuco. Certa feita, Lampião passou por ali com o bando, convido-o.  Convite aceito partiu com o bandido sertão afora. Recebeu todos os equipamentos de guerra e passou a ser conhecido por  MOCIDADE. Passou a cozinhar para o bando e participou do sequestro de coronel famoso em Águas Belas. Explicou por que Lampião não matou o coronel e toda a sua explicação coincide com livros que falam do assunto. Seis meses do seu ingresso no bando, fugiu, afirmando a si próprio que não nascera para aquela vida. Por ser calmo e paciente, servia às vezes de chacota para o amigo Zé Chagas, homem piadista nato, em Santana do Ipanema. A vida do primo Zé Chagas, daria um livro completo, por sinal, rimos muito no lançamento do livro em Maceió, lembrando suas brincadeiras inusitadas. Fo ali que descobri o nome do CANGACEIRO, através de outro primo, Zé Ormindo.

Pois, estão aí agora, os dois únicos cangaceiros santanenses que se tem notícia. Gato Bravo e Mocidade. Com estilos completamente diferentes, possuem a coincidência de fuga de cangaço. Entretanto, a nossa cidade nunca alimentou histórias de  cangaceiros. Sempre foi um limbo total na tradição do município desde a grande festa de cabeças de 1938. O nome descoberto e apresentado à sociedade e aos estudiosos foi apenas um desencargo da consciência de quem teve acesso.

Estamos indo, fui.

CAPA DE LIVRO (FOTO: B. CHAGAS).


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