O CANAL DO PROFETA (Clerisvaldo B. Chagas. 19/20.8. 2009) Os sertões nordestinos semp...

O CANAL DO PROFETA

O CANAL DO PROFETA
(Clerisvaldo B. Chagas. 19/20.8. 2009)

Os sertões nordestinos sempre foram pontilhados por frades, padres, beatos, fanáticos religiosos. Alguns criaram fama na época em que viveram, caindo no esquecimento tempos depois. É o caso do beato Severino e suas coisas absurdas no sertão de Alagoas. Todavia, pessoas sérias tornaram-se famosas permanentemente, pela religiosidade, pela vibração, pelos conselhos, pelos prodígios e mesmo pelos acertos de previsões marcantes. Com estilos diferentes permanecem na história do povo, o Padre Cícero Romão Batista e Frei Damião de Bozzano, considerados santos pelos seus seguidores. Mas existiu também um homem sério e venerado pelos sertanejos que saiu da memória do século XX. Francisco José Correia de Albuquerque, 1757-1848 — penedense e um dos fundadores de Santana do Ipanema — foi um padre carismático, milagroso e visionário. Entre suas inúmeras previsões, ficaram registradas em caráter inédito as que diziam sobre Batalha, Pão de Açúcar, Capim (Olivença) e Santana do Ipanema (ver em breve: O Boi, a Bota e a Batina, História Completa de Santana do Ipanema). Foi ele quem silenciou no meio de um sermão no antigo povoado Poço das Trincheiras, para depois dizer erguendo a cabeça: “Acaba de iniciar a Revolta Pernambucana no Recife”. 1817.
Quando acontece uma estiagem prolongada no sertão das Alagoas, surge em Santana do Ipanema, um verdadeiro festival de caminhões-pipa. Ruas e mais ruas ficam tomadas por esses veículos pesados, inclusive trecho urbano da BR-316. A sede toma conta dos animais e dos homens nos lugares mais longínquos da cidade. Não raras vezes esse modo obsoleto de salvação chega já em início da estação chuvosa, causando até mesmo prejuízo para os cofres públicos.
Quem não já ouviu falar no Canal do Sertão? Uma obra que vem sendo debatida há cerca de vinte anos e que se tornou fonte de propagandas eleitorais, o famoso e famigerado canal já se encontra em andamento. (Dizem até que é a mais importante obra hídrica do PAC). Quem conhece canal semelhante em Petrolina, no estado de Pernambuco, louva a iniciativa que é a única saída para a lavoura e o gado em seca prolongada. Mas as marchas e contramarchas desse trabalho corroem a paciência do sertanejo. Será que esses fatos só acontecem em Alagoas? Enquanto isso, lá o vem! Eita parou! Parou por quê? Já vem subindo! Chegou ali à casa de Chico Bento! Parou de novo, Mané!
Entre a fraude, a burocracia, e a fé, oremos irmãos. O que fazer para adivinhar quando será concluída essa obra? Nas caatingas do interior o jabuti ainda transporta operários para o batente. E só quem pode responder com fineza e exata precisão é o espírito iluminado de um Padre Francisco José Correia de Albuquerque ou o do próprio Padre Cícero do Juazeiro. O nome dessa vala pé-frio, pelo jeito, vai perdendo a denominação inicial e passa ser — isenta de qualquer demagogia — O CANAL DO PROFETA.

CIÇO DOIDO (Clerisvaldo B. Chagas. 18/19.8. 2009) Nos anos 50 ainda havia bons carnavais em Santana do Ipanema. Além de dois club...

CIÇO DOIDO

CIÇO DOIDO

(Clerisvaldo B. Chagas. 18/19.8. 2009)

Nos anos 50 ainda havia bons carnavais em Santana do Ipanema. Além de dois clubes importantes, a população contava com as grandes brincadeiras nas ruas da cidade. Entre outras atrações nas avenidas como o corso, os blocos, as orquestras, destacavam-se também os bandos de caretas. Os caretas eram homens e adolescentes mascarados que saiam às ruas com um relho de couro com ponteira estalando e fazendo medo. (Em alguns lugares eram chamados “bobos”). Quando fomos sair de caretas pela primeira vez, tínhamos receio ainda de qualquer ação contrária. Na Rua Senador Enéas um careta enorme aproximou-se e nos perguntou o nome. Dissemos. Ele declinou o dele: “Ciço Doido”. Saímos juntos agora sem receios nenhum, protegidos por aquele bobo gigante. Percorremos ruas e mais ruas sempre à sombra de Ciço Doido que enfrentava tudo por nós. Cumprida a missão dos brincantes, retornamos ao ponto de origem satisfeitos, cheios de felicidades.

Vamos observando as injustiças desse mundo moderno, principalmente pela falta da consciência com o próximo. É de chocar mesmo a qualquer cristão, a impunidade de crimes gravíssimos quando são cometidos por autoridades. A polícia vai lá e cumpre o seu papel investigativo, a mídia toma conta do caso, mas os juízes fraquejam na execução da Lei. Se o homem é venal, não tem vocação para juiz. Se for medroso, não está no ramo certo. Não é o roubo descarado o pior de todos os crimes. Às vezes, nem o assassinato da brutalidade política. Mas o pedófilo só deveria sair da prisão se fosse mutilado. Castra-se o indivíduo e pronto. Deixe que aumente sem culpa o bloco dos homossexuais. (Nada contra). Ora, se em um país o ladrão tem a mão cortada. Tem a outra cortada em novo roubo, por que não se pode mutilar o pedófilo no Brasil? Não seria a lei de Talião; é a única maneira de deter um pedófilo, principalmente os que exercem altos cargos na magistratura. Crianças e mais crianças são aliciadas por esses monstros que quase tempo nenhum passam na cadeia. No retorno à sociedade continuam praticando a mesma ignomínia, acobertados pelas cabeças gananciosas de outros iguais a eles. A população fica estarrecida com as notícias dos jornais quase diariamente sobre casos de pedofilia. Homens feitos, barbados, avôs, autoridades, indignos e infames que abusam de crianças. Nada mais horrível, nojento, bárbaro e desumano. Mas o sem-vergonha sempre encontra proteção de outros da mesma qualidade e logo está à procura de novas vítimas. Os estupros praticados por médicos em seus pacientes são outras aberrações que deveriam ser punidas como o explanado acima. Quando se pensa que os casos de pedofilia, investidas e estupros de médicos são coisas raras, estão aí os jornais desmentindo a raridade.

As brincadeiras dos carnavais de ontem, tornam-se realidade nos picadeiros de hoje. Crianças e adolescentes queriam um colosso para protegê-los dos possíveis perigos externos. Agora o magnata tenta — com a maior cara-de-pau — um advogado, um juiz, um maleável para servir de escudo. E para defender o tarado, o maníaco, o monstro, nunca há de faltar nem agora nem amanhã esse tal CIÇO DOIDO.

O BOI DE MINAS (Clerisvaldo B. Chagas. 17/18.8.2009) Nos anos 60 surgiu um ditado que se espalhou rapidamente e teve grande repercu...

O boi de Minas

O BOI DE MINAS

(Clerisvaldo B. Chagas. 17/18.8.2009)

Nos anos 60 surgiu um ditado que se espalhou rapidamente e teve grande repercussão no Sertão de Alagoas. Na chegada do ano 1970 negro iria virar macaco. Isso gerou um rebuliço enorme por todos os lugares. Se não deu brigas pesadas, mas provocou discussões que quase levam às vias dos fatos. Os pretos andavam desconfiados. E como o moreno Zacarias, chefe do lugar Alto dos Negros, no Bairro Floresta, era muito sisudo, tornou-se alvo predileto dos brincalhões. No aperto, na pressão constante dos que não tinham o que fazer, Zacaria saiu-se com boca dura: “E os brancos vão virar banana para comida de macaco” O ano 1970 aproximava-se quando surgiu a marcha de carnaval:

“Dizem que em setenta

Negro vai virar macaco

Ora vejam só

Que grande confusão

Se for verdade o que diz o profeta

O que seria do Pelé e do Didi” (...)

Finalmente chegou o ano 70 e, para felicidade geral, nem preto virou macaco nem branco virou banana.

Ainda no decorrer dos anos 60, surgiu outro boato. O homem que comesse do boi de Minas Gerais iria falar fino. Foi uma preocupação geral no interior. Muitos machões, por via das dúvidas, deixaram de consumir carne bovina. Os próprios marchantes do Mercado Municipal esforçavam-se em dizer que o gado de Santana do Ipanema era da própria região. Colocaram a culpa no boi nelore que seria o vilão mineiro. No instante a população aprendeu a distinguir os diversos tipos de raças regionais, na marra. As madamas não queriam ver nem de longe esse tal vilão nelore para ofertar ao maridão em casa. Quem diabo queria ver o marido falando fino? Nunca houve tantos marmanjos às portas do abatedouro as sextas, na margem do Ipanema. Todos queriam ver a cor do mamífero vítima do machado. Teve até um sujeito gigante que disse que se perdesse o bigode ainda atiraria num marchante peste. Mas o carnaval foi chegando. Um indivíduo que ninguém sabe de onde veio, andava nas ruas da cidade abraçado a um violão. Logo formou um bloco de carnaval e passou a repetir a música inventada por ele:



“Olhe o boi

Da cara preta...

Olhe o boi, da cara preta...

E olhe o boi, da cara preta...

Coitado do Valdemar

Não tem de que falar

Comeu da carne do boi e falou fino

E deu pra se requebrar

Ô que azar!...”

Coitado do povo com sua capacidade inventiva. Não teve boi de Minas que desse para abastecer a parada gay de São Paulo. E agora, Valdemar, qual será o próximo ditado?



Acesse o blog do escritor: http://clerisvaldobragadaschagas.blogspot.com