AS MENINAS DO BRASIL (Clerisvaldo B. Chagas. 24/25.8. 2009) Valeu à pena varar as madrugadas para contemplar os jogos do Grand Prix...

AS MENINAS DO BRASIL

AS MENINAS DO BRASIL

(Clerisvaldo B. Chagas. 24/25.8. 2009)

Valeu à pena varar as madrugadas para contemplar os jogos do Grand Prix. As jogadoras brasileiras adicionaram alegria e uma vaidade digna do nosso País. Cada partida um show particular e impressionante. As equipes estrangeiras faziam fila com os sacos das derrotas à mão diante das nossas cores. O azul apagado do terno transforma-se em chama devoradora na pancada. O técnico da seleção, José Roberto Guimarães, também dava espetáculos à parte com duas coisas fundamentais: frieza e competência. Após a consolidação do futebol, o Brasil agora passa a ser chamado também de “Terra do Vôlei”. Agora tanto vamos ao vôlei quanto ao futebol. Apenas o basquete continua capenga. Mesmo assim também poderemos ser potência no futebol feminino, graças ao incentivo geral da jogadora Marta. Já podemos observar diversos times femininos pelo Brasil afora com a certeza de que em breve esses clubes estarão cobrindo todo o País. Além de proporcionar a beleza e a quebra do machismo, o futebol feminino — como disse o presidente Lula — poderá gerar milhares de emprego. Além do campeonato do Grand Prix, pela oitava vez, a seleção ainda ficou com dois títulos mundiais: o de Sheilla como a melhor do mundo e o da Fabiana como a melhor bloqueadora. Importantíssima a posição invicta para ser respeitado o País pelo mundo inteiro. Afinal, uma sequência de 14 jogos com 14 vitória é, sem dúvida, um feito extraordinário. Dava gosto apreciar a queda dos grandes nomes: Estados Unidos, Alemanha, Polônia, China, Holanda, Rússia e outros como o próprio Japão. Expectativa antes, emoção depois com o predomínio do verde e amarelo. E para completar o domingo do Brasil continente, chega de quebra a vitória de Rubinho, carismático e sofredor, que dessa vez montou na vassoura da bruxa. Ainda bem que o esporte veio amenizar um pouco a onda negativa das bandas de Brasília. A garra da mulher brasileira está em alta nos quatro cantos da Terra.

Temos certeza, porém, que ninguém gostou do que a Rede Globo fez no último jogo do Grand Prix. Após viciar os telespectadores nas altas madrugadas — em espetáculos que valeram sim — nos deixou na mão, justamente na partida final e contra os donos da casa. Nenhuma outra emissora teve o direito ou o interesse de transmitir o jogo. Mesmo com seus outros compromissos, se isso não foi uma covardia, foi, no mínimo, uma falha deselegante. Então, o garoto ganha um sorvete e já no final, na parte mais gostosa, tem o sorvete arrebatado. Mesmo assim não vamos condenar no todo a poderosa. Vamos nos orgulhar das vitórias em série da Seleção Feminina de Vôlei. Abrem-se novas páginas no esporte desta nação, tentando compensar o tempo perdido do descaso. Foi realmente um domingo para ninguém botar defeito com o equilíbrio, a competência e a raça das MENINAS DO BRASIL.

PINGANDO SANGUE (Clerisvaldo B. Chagas. 21/22.8. 2008) Aos professores alagoanos para reflexão nas assembléias Quando Moisés, no deserto de ...

PINGANDO SANGUE

PINGANDO SANGUE
(Clerisvaldo B. Chagas. 21/22.8. 2008)
Aos professores alagoanos para reflexão nas assembléias

Quando Moisés, no deserto de Sin, tocou na pedra de Horeb, a água jorrou para mitigar a sede da multidão e dos rebanhos. O milagre de Deus também fez mudar o nome do acampamento de Rafidim para Tentação, segundo o livro do Êxodo. Se Moisés mudou o nome do lugar, mais adiante é o próprio Deus que chama “água da contradição”, quando o mesmo Moisés precisou tocar à pedra duas vezes ao invés de uma. Novamente jorra água para o povo incrédulo que não tolerava o sofrimento. Nem toda a assistência do Criador aos refugiados do Egito, impediu o fraquejar do comandante.
A Educação no Brasil nunca teve nenhum valor para os dirigentes políticos. As conquistas suadas, sofridas, martirizadas, tentam servir de fermento para uma longa continuidade. Os que estão no poder passaram pelas bancas escolares e muitos pelas mãos dos que continuam desvalorizados e clamam nos gabinetes, nas ruas, nas clínicas médicas à realidade dos seus direitos. As pedras, os monumentos, os insensíveis — agora com barrigas de prosperidade — viram às costas para os mestres que os iluminaram. Como se sente um professor que foi político votou contra as conquistas dos colegas, caiu do poder e volta a pedir voto de antigos companheiros? As autoridades, principalmente municipais e estaduais, devem se sentir como os imperadores romanos nas orgias e na gula dos banquetes, olhando com ironia para a plebe esfomeada. As mais esfarrapadas desculpas saem dos privilegiados, para não dividirem o bolo fabricado com o dinheiro dos desassistidos. Essa luta infinita dos mestres pela sobrevivência é uma vergonha nacional, para os responsáveis manipuladores dos cofres e das chaves. Profissão pensante nobre, gigantesca, vítima dos executores, algozes, carrascos que só enxergam a frente, a cupidez do ouro e as manobras enxadristas dos cargos eletivos. Quanto ganha um edil, um deputado, um governador... Um prefeito? Mas professor não. Professor é para viver massacrado, pensativo e silencioso. Escada para muitos crápulas que ao invés das grades cinzentas das detenções, comem, dormem e passeia mangando introspectivamente das antigas luminárias. Muitos nada são; apenas bajuladores, capachos, homens das “norminhas” que ficam contra as justas reivindicações para serem agradáveis a patrões esculachados. Como se sente a sociedade vendo a multidão de mestres às ruas, entes tão respeitados pelos pais e guias dos seus filhos?
Marcham os professores nessa profissão espinhosa sem glória nenhuma. Lutas e mais lutas por coisas tão poucas que os faraós se recusam a conceder. Homens e mulheres que pelejam como os do deserto do Sin, procurando uma fonte para saciar a dignidade e só encontram a pedra. Não a pedra de Horeb que jorrou água em abundância, mas a pedra da injustiça, da incompreensão, da falta de patriotismo e da igualdade que ao ser tocada pelo cajado do Magistério, ao invés de soltar água fica PINGANDO SANGUE.

CONTINUA A PAZ (Clerisvaldo B. Chagas. 20/21.8. 2008) Voltando a comentar sobre Santana do Ipanema, antes da ponte sobre a BR-316, ...

CONTINUA A PAZ

CONTINUA A PAZ

(Clerisvaldo B. Chagas. 20/21.8. 2008)

Voltando a comentar sobre Santana do Ipanema, antes da ponte sobre a BR-316, onde foi formado um açude e surgiu também o Bairro Barragem, alguma coisa mudou. Com a falta da ponte sobre o rio, os automóveis que chegavam pela margem direita, rodeavam por um lugar denominado Volta do Rio. Era ali aonde o Ipanema chegava do norte e fazia uma curva para o leste. Como ainda era distante do centro, a Volta passou a ser lugar de passeios aos domingos, principalmente para os garotos que frequentavam o catecismo na Matriz de Senhora Santa Ana. O escritor Raul Monteiro dedica duas crônicas a Volta. Uma sobre a chegada do automóvel de Delmiro a Santana, outra sobre personagem que morava por ali de nome Satuba.

Visitando recentemente a Volta, notamos o estiramento do Bairro Barragem em direção ao Poço das Trincheiras. Pela parte de trás, surge um novo bairro chamado pelo povo de Clima Bom, pois, sendo alto e quase plano, recebe toda ventilação vinda pela Volta do Ipanema. Ainda pelas margens da BR-316, o casario do centro da cidade conseguiu encostar à ponte da Barragem, cujo leito está assoreado. É bem dinâmico o movimento na BR que se inicia logo ao amanhecer. O Bairro Barragem já possui alguns tipos de serviços como oficinas mecânicas, mercadinhos, churrascaria, bares e matadouro de bovinos.

Olhando, entretanto, pela parte baixa, no lugar exato onde o Ipanema faz a curva, a paz continua como antigamente. A Rua Manoel Medeiros conseguiu também encostar as suas residências a Volta do Ipanema. Mas, ao se chegar à margem propriamente dita, o passado retorna imediatamente. É a paisagem bucólica da área rural. As águas descem mansas por entre pedras e areia; os burros pastam nas ervas rasantes; as vacas holandesas caminham no sopé da barreira, do outro lado, e os garranchos cinzentos resistem às águas nas lascas dos pedregulhos. Lá adiante, na outra margem da Volta, casa confortável na confluência do riacho Salobinho; urubus passeando nos arredores do matadouro; tapera de parede caída perto dos lajeiros.

Quando se olha do meio do rio à jusante ou a montante, vem a impressão fortíssima de que o tempo parou em meados do século passado. Enquanto os sons da festa de Santana parecem distante dali, no Panema reina um silêncio de ontem e de paz. Uma paz longa, sem fim, infinita, que acalma que suaviza que desintoxica e que transporta.

Uma coisa, entretanto, não para de incomodar. O lixo, essa praga urbana que tomou conta dos núcleos humanos. A falta de cooperação do povo que insiste no hábito perverso de afogar os cursos d’água com entulhos os mais diversos.

E se o escritor Raul viesse de novo rever a Volta que ele descreveu o que diria da casa de Satuba? O que falaria sobre o areal que não deixava passar o automóvel lustroso de Delmiro?

Enquanto isso o rio Ipanema continua o seu novo fadário: agora não abastecendo mais à cidade — farta de água doce — mas sim, levando o lixo e as areias das encostas; vez em quando mantendo a tradição de levar gente também. Todavia, bravo, silencioso e servidor no seu vale repleto de quietude. Ipanema, “Pai de Santana”, lugar onde CONTINUA A PAZ.

Acesse o blog do escritor: http://clerisvaldobragadaschagas.blogspot.com/