SANTANA E A FEIRA DA FARINHA Clerisvaldo B. Chagas, 28 de julho de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.354 MERC...

SANTANA E A FEIRA DA FARINHA


SANTANA E A FEIRA DA FARINHA
Clerisvaldo B. Chagas, 28 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.354

MERCADO DE CEREAIS PRECISANDO REPAROS, EM 2013.
(FOTO: LIVRO 230/B. CHAGAS)
Farinha de mandioca sempre foi mercadoria gostosa e sem valor comercial. Nos tempos de muita mendicância nas ruas, era o principal produto para os esmoleres. Aplicava-se a denominação de farinheiro ao cidadão que vendia farinha, deixando bastante gente conhecida com esse falso sobrenome. Em Santana do Ipanema, a farinha era vendida em sacos brancos com bocas arregaçadas, em qualquer lugar das feiras livres. Depois os farinheiros ficaram juntos, pela organização da prefeitura, mas ainda no meio da turba. Assim foi criada pelo povo, a expressão “feira da farinha”.  A aglomeração foi dividida por títulos e lugares: feira da farinha, feira das panelas, dos porcos, dos mangalhos, das frutas, do fumo e assim por diante. Mas foi feita outra mudança na feira e os farinheiros passaram a vender a farinha de mandioca, em casa de esquina no início da Rua Tertuliano Nepomuceno (defronte ao hoje mercadão Todo Dia). Houve estranheza do povo. Todos os farinheiros num salão só, na casa, talvez comprada pela prefeitura e cedida para esse fim. Antes, ali funcionava uma barbearia.
Mais tarde foi construído pela gestão do prefeito Adeildo Nepomuceno Marques, o Mercado de Cereais, em terreno baldio no bairro monumento por trás do, então, Hotel Santanense, de Dona Beatriz, entre 1960 e 1970. O povo estranhou mais ainda, por ficar o lugar muito distante do centro de compras. Mas, o próprio Mercado ajudou a estirar a feira de baixo para cima chegando à sua calçada e ruas próximas. O Mercado de Cereais passou a negociar também feijão e arroz. Depois foi criado um compartimento para vender peixe.  Muitos farinheiros deixavam seus boxes para colocar a mercadoria no corredor de entrada do Mercado, na ambição de vender, dificultando o tráfego de pessoas.
Vários farinheiros se destacaram pelo tempo na profissão, entre eles, os irmãos Camilo: Valdemar, Agenor, José e seu filho Bilola (ô) que depois virou soldado de polícia. O Mercado continua de pé, sofrendo desgastes, mas resistindo ao tempo vendendo farinha.
A mandioca não dá em todo tipo de terra. Mas, dos agricultores que trabalhavam com esses roçados, muitos deixaram o plantio da mandioca e até casas de farinha modernas, cerraram suas portas. Entretanto, vindo dos quatro cantos do mundo, a farinha continua chegando à cidade. E quando o sujeito não presta é chamado no sertão, de farinha: “Aquilo é um farinha”.
E o terreno baldio em que se armavam os circos que chegavam à cidade, passou da alegria temporária ao mister de matar a fome dos seus antigos espectadores.
                                                             









‘SEMANA E CASO DO PADRE CÍCERO Clerisvaldo B. Chagas, 27 de julho de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.353 Ad...

SEMANA E CASO DO PADRE CÍCERO


‘SEMANA E CASO DO PADRE CÍCERO
Clerisvaldo B. Chagas, 27 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.353

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Contando caso acontecido nos sertões nordestinos.
Seu Guilherme, baixinho, branco e de idade avançada, não perdia um ano sem ir a Juazeiro do Norte, a pé. Morava no Bairro Lajeiro Grande e zelava a igrejinha do padre Cícero no lombo do lajeiro. Aqueles que tinham a coragem do senhor Guilherme, enfrentavam em torno de 500 km por todos os tipos de estradas, sol, chuva, animais selvagens, sede e cansaço nessa estirada de pedras e areias.
Quem já caçou no sertão, lembra da espingarda “soca-tempero”.   Assim chamada porque carregava pela boca. A pólvora, o chumbo, a bucha de corda velha eram socados pela vareta – acessório metálico da arma. Após, levantava-se o cão e colocava-se a espoleta. Estava pronta para o tiro. O chumbo grosso ou fino dependia do porte da caça. A pólvora era guardada pelo caçador em uma cabacinha natural, fruto do cabaceiro. Muitos envernizavam caprichosamente esse depósito que era tampado com pedacinhos de madeira ou sabugo. O chumbo era armazenado em um saquinho de tecido especial com saída arredondada e metálica, chamado chumbeiro. Motivo de apelido para pessoas de boca pequena e redonda: boca de chumbeiro. Em Santana do Ipanema, comprávamos pólvora em embalagem cilíndrica no armazém do senhor Marinho Rodrigues, no “prédio do meio da rua” ou na mercearia do senhor Manoel Vieira, no beco do Mercado de Carne onde hoje é o supermercado Todo Dia. Chumbo também. 
Um grupo de romeiros se dirigia a Juazeiro, a pé. Parou numa casa pediu rancho (pousada).  Durante a madrugada, um deles viu atrás da porta uma cabacinha de pólvora, pendurada. Era tão formosa que ele não resistiu e carregou o objeto. No outro dia, o grupo prosseguiu viagem. Uma vez em Juazeiro, providenciaram as coisas de praxe e na volta foram pedir conselhos e bênção ao padre Cícero. Este aconselhou ao grupo, mas, na saída, chamou um dos componentes e disse: “Amiguinho, quando vocês voltarem e dormirem na casa do senhor Fulano de Tal, deixe a cabacinha no mesmo canto em que você pegou”. Fato narrado no livro que mudou a minha vida: “O Patriarca do Juazeiro”.
Na cidade de Ouro Branco, sempre é formado um grupo de romeiros que continua a tradição. Não temos mais essa força, porém, conhecemos pessoas em Santana do Ipanema que há pouco enfrentaram esse desafio. Os motivos da caminhada são diversos, mas sempre tendo como pano de fundo algo difícil de conquistar ou já conquistado pela fé através do milagreiro cearense.
Seu Guilherme, se fosse vivo, ficaria bastante desgostoso em saber que no Lajeiro Grande substituíram sem coração o santo popular do credo sertanejo.
Cícero é obra de Deus e será sempre um vencedor.




PADRES DA PARÓQUIA DE SANTANA   Clerisvaldo B. Chagas, 24 de julho de 2020 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.352 P...

PADRES DA PARÓQUIA DE SANTANA


PADRES DA PARÓQUIA DE SANTANA
 Clerisvaldo B. Chagas, 24 de julho de 2020
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.352

PADRE JACYEL (COM LIVRO À MÃO) E ESCRITOR
CLERISVALDO B. CHAGAS. (FOTO: MARCELLO FAUSTO).
Ao completar mais uma noite de festejos em homenagem a nossa padroeira, o livro “o Boi, a Bota e Batina; História Completa de Santana do Ipanema”, mostra que alguns padres se destacaram   em tempos idos em nossa região. Entre eles, o evangelizador primeiro padre Francisco José Correia de Albuquerque, cujas virtudes e feitos deslumbravam um futuro cheio de êxito para o nosso catolicismo em terras da Ribeira do Ipanema.
De 1884 a 1888, tivemos o padre Teotônio Ribeiro e Silva, natural de Traipu. Foi ele quem escreveu a biografia do padre Francisco Correia, tudo que se tem até hoje. Era poliglota de muitas línguas, uma surpresa em sabedoria numa época tão difícil.
Tivemos ainda o padre Veríssimo da Silva Pinheiro entre 1888 a 1892, tudo indica, substituto de Teotônio. Foi ele quem construiu o primeiro cemitério da Santana do Ipanema na parte alta, espaço atual entre a Igreja Sagrada Família e a EMATER.
Foi também padre em nosso município, Manoel Capitulino de Carvalho, natural de Piaçabuçu, terra ribeirinha do São Francisco. Permaneceu entre 1898 a 1919. Entrou na política chegando a ser “prefeito” de Santana. Foi ele quem fez a primeira reforma da igreja fundada pelo padre Francisco Correia. Foi governador interino de Alagoas e elevou à cidade a vila de Santana. Ainda construiu a igrejinha de Nossa Senhora da Assunção como marco de passagem de século.
Padre José Bulhões, 1919 a 1952, filho de Entre Montes, povoado ribeirinho do São Francisco. Fez a segunda grande reforma da igreja central, deixando-a como hoje se apresenta no todo. Adoecendo perto do final da obra, foi auxiliado pelo padre Medeiros, de Poço das Trincheiras.
Destaque também para o padre Luís Cirilo Silva, 1951 a 1982, sendo natural da serra da mandioca em Palmeira dos índios. Oriundo de linhagem holandesa. No seu período o teto da Igreja Matriz veio abaixo, faleceu pouco tempo depois e a igreja sofreu uma grande reforma interior.
Padre Delorizano Marques, construiu o santuário Guadalupe, marco do século e reformou a Matriz que era de estilo tradicional. Delorizano era natural de Major Izidoro.
Atualmente, comanda a paróquia de Senhora Santana, o padre Jacyel Soares Maciel, santanense do sítio Olho d’Água do Amaro, o que representa motivo de orgulho para a “rainha do Sertão.






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