sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

PRAÇA TAHRIR

PRAÇA TAHRIR
(Clerisvaldo B. Chagas, 11 de fevereiro de 2011).

       Evocando o espírito maçônico, incutido à Revolução Francesa, no sentido da trilogia Igualdade, liberdade e fraternidade, vamos observando o movimento político no Egito. Vai-se tornando tradição o lugar de desabafo no centro da capital egípcia. Assim como o núcleo de cidades como Salvador, na época do poeta Castro Alves, grita-se também contra os grilhões no antigo reinado de Menés. O antiescravagista baiano já dizia em suas declamações que “a praça é do povo como o céu é do condor”. A Praça Tahrir ─ situada no centro do Cairo ─ torna-se agora um poderoso centro de resistência contra a tirania em forma de ditadura. Em árabe, o logradouro se traduz em Praça da Libertação, nome esse adquirido depois de 1952. A maior praça pública da capital do Nilo, além da estratégia geográfica, tem em redor de si importantes prédios como o Museu Egípcio, Estação Sadat de Metrô, campos da Universidade Americana do Cairo e sede do Partido Democrático Nacional. Já houve na Praça Tahrir, outros movimentos como a “Revolta do Pão”, 1977, e o protesto contra a guerra do Iraque em 2003. A atual mobilização popular teve início no dia 25 de janeiro que evoluiu e chegou à chamada “Marcha de Um Milhão” no dia 1º de fevereiro de 2011. Cansadas de pobreza e desemprego, as multidões engrossaram os pequenos movimentos que gritavam pela saída de Hosni Mubarak, absoluto no poder a trinta anos. Isso vem provar que o absolutismo consentido também cansa, principalmente quando os meios de comunicações vão mostrando o mundo inteiro em tempo real. Com avanço da tecnologia, países ditatoriais já não podem continuar escondendo o que se passa no planeta, mesmo proibindo televisão privada, rádios ou Internet.
       Ou cedo ou tarde cairá Hosni e outros colegas que fazem dos seus respectivos países, eternas dinastias. Esse efeito que já atingiu todo o norte da África incomoda ao Irã, Cuba, China, Coreia do Norte, Venezuela e mais outros que teimam em não aparecer com tanta força. As manifestações populares no Egito, não deixam, porém, de ecoarem em democracias cujos escândalos de corrupção atingem elevados graus de revoltas íntimas dos seus comandados.
       No Brasil, com a renovação parlamentar em Brasília, estimada em quarenta por cento, mistura-se a água velha à água nova com chances maiores de moralização. Mesmo desse jeito, a água nova não é tão nova assim. Com ela chegam os vícios dos estados que continuam desafiando a zelo com o erário público. Um dia a paciência do povo cansa. No Brasil houve inúmeras revoltas desde os sistemas políticos mais remotos. Tempos de colônia, reino unido, império, república, ditaduras... Não houve jamais uma só forma de governo nesses quinhentos e tantos anos que não tivesse havido rebeliões em solo brasileiro. Praças de Salvador, Recife e mesmo de Brasília foram ficando na história de protestos e conquistas. Quando o vírus da liberdade se espalha, não respeita estrutura nenhuma, nem as que pensam que são fortes como concretos ou transparentes como cristais. Nossas homenagens ao bravo povo cansado de sofrer da PRAÇA TAHRIR.


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