NEGRO E MULHER
Clerisvaldo B. Chagas, 21 de março de 2011)
Sobre a visita do senhor Barack Obama ao Brasil, foi tudo dentro do previsto por nós na última crônica sobre o assunto, intitulada: “Que Queres Tu”. A única coisa que não previmos e nem podia, foi a de ordenar o ataque à Líbia daqui do palácio brasileiro. Fora os aborrecimentos das exigências de segurança, tudo aconteceu normalmente em Brasília. A recepção popular foi indiferente. Entre as autoridades, os mesmos protocolos. O casal americano tentando ser simpático; a presidenta também. Nos discursos esperados, Dilma foi determinada ao cobrar altivamente igualdade entre as duas nações e um assento permanente no Conselho da ONU. Foi firme na cobrança e habilidosa no modo de cobrar. Para a primeira cobrança, Obama reforçou o pedido da presidenta, até por que ele sabia que estamos vivendo novos tempos e não a era das ordens de Washington. Mas o segundo pedido foi evasivo (como havíamos previsto). Obama sabe que o Brasil precisa muito daquele assento e preferiu fazer charme, sustentar o pedido na mão, para com ele obter muitas concessões do nosso país para poder liberá-lo Todo político é manhoso, em qualquer parte do mundo. Quanto a ordenar o início do ataque à Líbia, destacamos a malícia programada. O Brasil se absteve na votação sobre o uso da força, não foi? Pois bem, ele ordenou o ataque daqui para dizer, primeiro, que ainda era o todo poderoso e impressionar o governo brasileiro. Segundo, para fazer a propaganda dos caças americanos em licitação, mostrando indiretamente sua eficácia na Líbia. É como quem diz: “preste atenção Dilma, como os nossos aviões são os melhores. Compre os nossos caças”. Terceiro, tentou mostrar perante os líbios que a opinião do Brasil ao não uso da força nada valia, pois ordenara o ataque do próprio território brasileiro dentro do palácio com presidenta e tudo.
No Rio de Janeiro, ainda encontrou alguns vaidosos e curiosos no Teatro. O discurso ali foi bonito, mas nada de extraordinário. Reconheceu o Brasil que o mundo já conhece. As palavras foram muito mais para historiador do que para político. Não impressionou e nem ofendeu. Veio afagar o Brasil interessado em livrar-se do petróleo e das piadas de Chávez. Estar querendo lucros nos negócios da Copa e das Olimpíadas, mais investimentos brasileiros para gerar empregos por lá e aquele resumo que a sabedoria do nosso povo fala: “Não dá prego sem estopa”.
Vamos aguardar agora as repercussões internas desta semana e as opiniões externas. Depois, prestar atenção nos fatos concretos que poderão acontecer entre os dois países. Por enquanto, os assuntos em evidência são relativos à Líbia e ao Japão. A diplomacia brasileira nos pareceu muito melhor estruturada, mais madura e sabendo o que realmente quer e como quer. Dilma está melhor do que a encomenda. Não se pode mais abaixar à cabeça e nem outras partes mais sensíveis do corpo, nem para americano nem para embaixada alguma. DIGNIDADE é o que todos brasileiros esperam do novo governo. Se não foi apoteótico, também não foi horrível assim, o encontro da nova simbologia no poder: NEGRO E MULHER.
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