MEIA PORTA
(Clerisvaldo B. Chagas, 25 de março de 2011)
O presidente dos Estados Unidos fez o seu giro pela América Latina, pontilhando apenas três países. O motivo resumido em três, não se sabe. Nem perguntando a ele próprio, o presidente responderia. E se respondesse, é óbvio que não falaria a verdade. E se falasse a verdade iria ofender quase o hemisfério todo. A repercussão, entretanto, da sua visita foi apática, quase inexistente. Os jornais do mundo inteiro preferiram a quentura do norte africano e a tragédia japonesa. Mas o mutismo da repercussão pode ter sido gerado na particular ação gelada, rotineira e sem vida de Barack. O que outrora causaria sensação, dessa vez conquistou apenas indiferença e sono. Os países da América do Sul, bem como os da América Central, calaram como se fosse uma combinação antecipada. Todos parecem cansados do império. Como a imprensa é a parte mais sensível dos grandes acontecimentos, a sua ausência após a visita do homem, pareceu refletir o pouco interesse no assunto. Foi por isso que os acontecimentos da Líbia e do Japão foram marcados em cima o tempo todo. Obama deve ter chegado de volta aos Estados Unidos, arrasado com a indiferença latina pela sua presença. Ele não é culpado sozinho. Os freios do congresso às suas ideias e a tradição arrogante americana, rareiam as caças nas pradarias do planeta. O presidente deve ter chorado com seus botões pela indiferença do Sul a sua visita, consequentemente a seu país. Foi levantar a popularidade e voltou pior. Ao chegar a Casa Branca, encontrou a porta fechada. Ficou preso por fora. A porta falou simbolicamente sobre o giro que acabava de fazer.
Atolado até o pescoço no Iraque e no Afeganistão, os Estados Unidos não conseguem fazer brilhar a estrela do presidente que eles mesmos elegeram. É, porém, muito cedo para dizer se Obama está no lugar certo no tempo errado. Todo o plano de Barack no passeio latino voltou-se contra. Tanto é que, para aliviar às pressões antiamericanas em todos os lugares, entregou o comando a outros, nos ataques a Líbia. Não quis se desgastar mais ainda, muito embora possa ter alegado outras razões. Procurar notícia de Obama nos jornais ficou mais difícil.
Enquanto isso, sigamos outros movimentos que estão ajudando a mudança global. Afinal, não se sabe tudo. Existem por aí tais bastidores, que são bichos quase invisíveis e que somente andam com o focinho nos ouvidos alheios. Longe dos bichos uma coisa é coisa; se estão os bichos, coisas não são coisas. Para os chamados agora “gestores”, nem tudo é conveniente que o povo saiba. Meu amiguinho, esse negócio de política é complicado até em casa, quanto mais no exterior. Veja o Obama, compadre. Triste que só urubu no inverno. Ao chegar ao Salão Oval da Casa Branca e encontrar a porta fechada, deve ter associado, como nós, à entrada da América Latina com apenas MEIA PORTA.
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