quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

VAMOS MATAR OS CACHORROS


DIA 19, LANÇAMENTO DE LIVROS


VAMOS MATAR OS CACHORROS
Clerisvaldo B. Chagas, 17 de janeiro de 2013.
Crônica Nº 949

Estamos realizando os nossos afazeres certas horas da noite, quando a energia nos deixa de repente. A energia da Eletrobrás que deve ser um monstro nervoso que opera à distância. Todo mundo tem medo dessa danada. Medo daquelas contas que arrepiam quando vai chegando o fim de mês. Medo de ficar no escuro uma noite completa à mercê dos mosquitos, muriçocas ou muruanhas e mesmo outro bicho invocado chamado maruim. O vap-vap do pano ou o teco-teco da raquete de pilhas nada resolvem no breu sem lua, sem estrelas, sem coriscos. As horas escuras vão irritando os nervos das pessoas. Apelam-se às velas, ao candeeiro, às lanternas, à velha caixa de fósforos que ninguém sabe onde ficou. E na procura das mãos cegas pela casa, tome picadas nos braços, nas pernas, na bunda. São os mosquitos aproveitando o escuro para a vingança divertida. O netinho chora, o avô topa nas paredes e a luz não vem. Nem mesmo para namorar presta porque o calor não está para brinquedo. Para ladrão é diferente. Coisa de primeira, sem igual, trevas nos muros alheios, nota mil.
Não sabemos se isso pode ser chamado de apagão, um tempo entre meia e uma hora, mas que maltrata, maltrata e desafia a paciência. A formação de trovoadas parece amedrontar postes e fios que estão por aí cortando o sertão de guerra nesses tempos mais modernos. Basta leve ameaça de chuva para ser repetido, inúmeras vezes, o jargão da força: “É bastante cachorro mijar no poste, para faltar energia”. Todo mundo fica revoltado e apreensivo nesse escuro, mas não faltam piadas brasileiras em cima dos responsáveis pelos apagões. Um comerciário contava que após um apagão, o pessoal da Companhia sentou para analisar o fato e foram ouvidas várias sugestões. Discussão vai e discussão vem, até que um baixote vulgo Temperinho falou muito sério que tinha guardado a solução definitiva do problema. E depois de todos apostarem no baixinho este foi obrigado a revelar o segredo contra o apagão. Simplesmente disse Temperinho muito sério e definitivo: VAMOS MATAR OS CACHORROS.

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