terça-feira, 25 de junho de 2013

RIO MACHO

RIO MACHO
Clerisvaldo B. Chagas, 25 de junho de 2013
Crônica Nº 1041

A tarde continuava. Estávamos exaustos de caminhar em tantas montanhas, pedras, areias e matos. Passava das duas da tarde. Não aparecia uma só casa... Nem gente.
Quando conseguimos descer de uma aba de serra para caminhar pelo rio, outra surpresa desagradável para os pés. Uma sucessão de pedras de cerca de dois metros de altura, em média, barrava quase toda a largura do Ipanema. Uma das pedras destacou-se: comprida, transversal ao rio, cilíndrica, picotada na largura como se fios d’água tivessem se cristalizado em toda a sua dimensão.. \pensávamos até que fossem as cachoeiras tão faladas por algumas pessoas de Santana, que diziam que as cachoeiras impediam a subida de peixes grandes do São Francisco para a nossa terra. Mas não era. Não havia como prosseguir de outra forma, então, tivemos que passar por sobre as pedras num sobe e desce sem fim. Subíamos nas pedras abraçados a elas, de joelhos, escalando; e descíamos em pé, de cócoras, arrastando o traseiro, de barriga... O diabo! Descobri um pilão com água límpida encoberto com pequenas folhas, muito comum nos lajeiros do Sertão. Estava com o cantil meio e tentei retirar água dali, mas logo desisti por que teria que arriar o malote e perderia tempo. Saí com água na boca da água que não bebi.
Ao vencer mais essa empreitada, veio um trecho de areia grossa. Eu pisava na água, pisava na areia e irritava os calos d’água. Mais adiante entramos por um braço de rio entre uma ilha e um barranco em forma de corredor alto, bonito, solitário como uma alameda deserta. Quando cheio aquilo deveria ser  bem profundo e perigoso. Encontramos um rapaz caçando. Pedimos informações e ele indicou uma vereda escondida cinquenta metros adiante.  Não foi fácil localizá-la dentro da caatinga, mas conseguimos. Era estreita e poeirenta, ajudava aos pés. Mas logo adiante voltamos à areia do Panema. Por aí andamos um bom bocado. Welington havia deixado o chapéu em algum ponto e felizmente não iria precisar mais dele por que o dia estava nublado e o céu começava a formar nuvens de chuva. Pendemos para a margem direita, agora, e avistamos meninos brincando no rio, perto de uma casa. Eles se aproximaram de nós e disseram que adiante ficavam as cachoeiras. Só havia passagem margeando algum tempo pelo sopé de outra montanha. Segui à frente e fiquei esperando os outros sob uma craibeira.
(...) O nosso novo rumo era delicado. Foi nesse ponto a visão mais fantástica de toda a viagem.

·         Extraído do livro “Ipanema um rio macho”, do mesmo autor, págs. 56-57.

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