FLORESTA, CALÇAMENTO E POESIA Clerisvaldo B. Chagas, 9 de janeiro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.036 ...

FLORESTA, CALÇAMENTO E POESIA


FLORESTA, CALÇAMENTO E POESIA
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de janeiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.036

BAIRRO CLIMA BOM. (FOTO: JEAN SOUZA/SERTÃO NA HORA).
     Há muitos e muitos anos, foram construídos três conjuntos residenciais no Bairro Floresta, em Santana do Ipanema. Na época, muitas críticas sobre o tamanho das casas, classificadas pela população como “casas de pombo”. Hoje, várias e várias gestões depois, fala-se definitivamente em pavimentação daqueles três conjuntos à base de paralelepípedos. O local é bastante acidentado e tem sofrido através de todo esse tempo, o abandono, a pobreza, a insalubridade. Laboratório social aberto a quem procura elaborar teses. O conjunto Santa Quitéria tem seu nome implantado na fé. O conjunto Cajarana, porque ainda possui a árvore simbólica que lhe deu origem. E o conjunto Marinho por ter recebido doações de terras ou não, do antigo latifundiário e comerciante Marinho Rodrigues.  
     Quantas e quantas vezes apontei aos meus alunos e a sociedade o descaso com a região. Terrenos acidentados, poeira no verão, lama no inverno, chuvas torrenciais provocando voçorocas nas ruas e a pobreza reinando nas casas de pombo. Essa decisão da prefeitura em calçá-los já devia ter acontecido há décadas. Mesmo assim, com um atraso de cerca de trinta anos, o calçamento é bem vindo, no estilo arcaico de pedras retangulares. Anunciado também o mesmo sistema para o Bairro Clima Bom. Este é bem localizado, terreno enxuto, quase plano e bem ventilado como diz seu nome. Lugar físico bem agradável, mas como os citados acima com uma pobreza de fazer dó. Apesar de ser o seu dever, o prefeito faz até uma caridade, cujos benefícios irão refletir na saúde, na economia e na autoestima dos seus habitantes que ainda precisarão muito da área social, como oportunidades de emprego, por exemplo.
     O calçamento em paralelepípedos e não em asfalto faz jus aos dizeres: “É melhor do que nada”. “Para se amparar da chuva, qualquer barraco serve”. Foi assim que alguém disse para o exímio poeta da boca suja, Chico Nunes de Palmeira dos Índios. Reclamando de um sofrível tira-gosto, tentou consolá-lo um amigo, dizendo: “Tem nada não, Chico, qualquer roupa veste um nu”. O poeta repentista virou-se e disse:

“Menos gravata e colete
Porque não cobre o cac...
Nem a regada do c...”.

     Sim, é um manifesto de satisfação atrasadíssima para os habitantes daquelas locadidades, mas pelo menos os parabéns são atualizados. Fazer o quê. “Águas passadas não movem moinhos”.
  
                                                               

CORISCO: O SONHO E O PESADELO Clerisvaldo B. Chagas, 9 de janeiro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.035 ...

CORISCO: O SONHO E O PESADELO


CORISCO: O SONHO E O PESADELO
Clerisvaldo B. Chagas, 9 de janeiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.035

     As sortidas de Lampião e seus cabras em Alagoas, sempre trouxeram malefícios para o Sertão e parte do Agreste. Mas Corisco também era cria do Alto Sertão Alagoano, precisamente da serra da Jurema, região de Água Branca. Nas suas nefastas andanças, o bandido, volta e meia, penetrava no estado através da região serrana oeste. Não eram raras as notícias sobre o cabra pelos sítios e fazendas de Água Branca, Mata Grande, Pariconha... Onde a exuberância da caatinga se fazia representar pela altitude. Assim, vamos encontrar o cangaceiro e seu grupo em 1936, em uma dessas sortidas por ali. 1936 foi o ano em que o cangaço se refugiava mais e atacava menos, mas faltavam ainda dois anos para o fim dos desmandos da caterva. Veja o texto abaixo.
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      Em 1936, reuniram-se alguns companheiros de caçada, em Mata Grande e partiram para a fazenda Jaburu. Estavam o telegrafista Antenor Nunes de Oliveira, o fiscal de rendas Euclides Ferreira, José Dominguinhos e Francisco Basílio, proprietário da fazenda. Antenor que tivera um sonho com seu pai, com algumas advertências e não queria ir. Os outros o convenceram e partiram para a caçada. Logo cedinho, na passagem de um riacho, deparou-se com Corisco e nove homens. Foram presos e interrogados, mas logo caíram na farra com bandidos na casa da fazenda. Os da cidade entraram com a cachaça, Corisco com bode assado e uma farra danada até à tardezinha. Corisco pediu que eles arranjassem uma bíblia, mas que não fossem dos “bodes”. Antenor perguntou se a pistola que Dadá estava com ela era para matar mosquito. A mulher respondeu dizendo que ele pegasse na abertura de Corisco que ela mostraria para que servia a pistola. “Deus me livre!”. Disse ele com medo.
     No dia seguinte chegou por ali na pista dos bandidos, o sargento Manoel Valentim Gomes. Colocou cabeleira postiça em dois soldados e, ambos se passando por cangaceiros desgarrados interrogaram o homem. O dono da casa contou tudo com detalhes. O dono da casa foi levado à presença de Valentim.
     Os homens da cidade sofreram intensa perseguição. Os outros foram presos e os dois funcionários públicos quase foram mortos pela polícia e por muitos pedidos de pessoas influentes escaparam no pau do canto.
Extraído do livro:
CHAGAS, Clerisvaldo B. & FAUSTO, Marcello. Lampião em Alagoas. Maceió, Grafmarques, 2012. Págs. 130-131.


MACEIÓ DE JANEIRO Clerisvaldo B. Chagas, 8 de janeiro de 2019 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.034      PREGUI...

MACEIÓ DE JANEIRO


MACEIÓ DE JANEIRO
Clerisvaldo B. Chagas, 8 de janeiro de 2019
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.034

    
PREGUIÇA DO ANOITECER EM MACEIÓ. (FOTO: B. CHAGAS).
Mais de dez dias de temperatura agradável, em Maceió, que começa o verão em bom estilo. Variação boa do tempo entre o nublado e chuvaradas benfazejas que vão deixando a temperatura até mesmo em 25 graus. E neste índice ótimo para uma soneca, nada como uma rede na varanda e uma dose de uísque com água de coco. As praias continuam cheias de turistas e os hotéis lotados. Os visitantes ficaram cabreiros com notícias de tubarões na Jatiúca – praia mais frequentada da capital – mas logo deram uma banana para os comentários e não perderam o desejo dos mergulhos. Comércio bem movimentado repletos de pessoas de outras regiões e estrangeiros como italianos, argentinos e chineses. As promoções de final e início de ano mascaram a inflação gerada pelos turistas.
E o chilrear dos automóveis no asfalto molhado, faz lembrar meu sertão velho de guerra, sofrendo com abastecimento d’água. Dizem que tal bomba quebrou na adutora e Santana do Ipanema continua de caixas-d’água vazias.
     Mas voltando a Maceió, ainda repercute por aqui o problema geológico acontecido no Bairro Pinheiro. Rachaduras de inúmeros prédios que deixaram assustados os seus moradores, ainda sem definições. Falam que os estudos do subsolo continuam com outra ou outras equipes, mas nada de conclusão. Enquanto isso, não chegam novos habitantes e nem se vendem imóveis. Com razão seus moradores estão ansiosos em busca de explicações plausíveis diante de tantas especulações. Um morador do Pinheiro, levando tudo na brincadeira exclama: “Será o Benedito!”.
Tempo bom para uma caminhada pelas praias da cidade, observando, conhecendo, pesquisando, amando as belezas naturais e artificiais que nos encantam. E lá naquela barraca da orla está o cantor improvisado:

“Ô Maceió
É três mulé
Pra um home só...”

     Mas não devem ficar de fora os seus mirantes, praças e museus. Ah camarada, não é somente fotografia bela, mas anotações para enriquecer o crânio, doutor.
     Rosa ou azul? Nem precisa se identificar, ora!.