FUMAÇA DA CRISE
Clerisvaldo B. Chagas, 2 de novembro de 2011
Não deixa de ser uma grande humilhação imposta ao povo grego, essa crise que gargalha a dentes escancarados. Para quem já está com a mão no prêmio, mas escorrega no pau de sebo, tremenda frustração penetra pelo umbigo. Esse mundo simples, tornado complexo pelo homem, vai mostrando suas insatisfações como pedrinhas furando, entre a sela e o cavalo da economia. Tontos ficaram os mercados com o anúncio do primeiro-ministro da Grécia. Não querendo tomar a responsabilidade da crise grega, sozinho, o homem resolveu colher a opinião do seu povo. É como perguntar a quem estar apanhando, se estar doendo. Todos estão com medo da resposta do povo, de um calote da Grécia, de um agravamento no chamado nó cego que ninguém sabe ao certo quem diabo aprontou. Quem vive na Grécia com certeza não se sente seguro, temendo pelo seu emprego, pelo presente da sua família e pelo futuro do país. Além das humilhações a que foi submetida até agora, essa nação ainda convive com o fantasma da exclusão do bloco da UE. É muita coisa para um país só.
O pior de tudo para uma Europa rica e aparentemente sólida ─ furada como uma bola por um prego traiçoeiro ─ é o tal efeito dominó que se avizinha. Excluir a Grécia da “zona do euro”, vai adiantar alguma coisa? E se mais outro candidato a Grécia aparecer? E mais outro? E outro mais? De fato, o mundo está de boca aberta, cabelos espetados e bolsas comprando velas. Nem seria surpresa se aqueles humoristas de televisão, convocassem os antigos deuses da mitologia local para uma solução rápida desse problema moderno: Zeus, Hera, Poseidon, Atena, Ares, Deméter, Apolo, Ártemis, Hefesto, Afrodite, Hermes e Dioníso; pelo menos para ajudar o primeiro-ministro Georges Papandreou. A coisa não está ruim somente na Grécia. Todos temem a nuvem preta que vai encorpando a negritude. China e Estados Unidos não vão bem, refletindo forte no todo por serem as duas maiores economias globais. Quando bate o desemprego, bate o descontentamento que forma as rebeliões localizadas e correm como rastilhos de pólvora. As convulsões das sociedades trazem, quase sempre, desastres de grandes proporções.
Chegamos ao dia de finados com a economia mundial combalida, procurando um remédio pronto para uma beberagem urgente. O medo é que ainda não tenha sido fabricada a poção milagrosa que salvará a todos. Torcer a favor da crise europeia é torcer também contra nós mesmos, pois o mundo não tem cercas nem porteiras. Mesmo quem está distante do epicentro, avista com certa facilidade nos céus clarividentes, a sinuosa e dançante FUMAÇA DA CRISE.
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