FALTANDO TIRA-GOSTO
Clerisvaldo B. Chagas, 16 de novembro de 2011
Gostei e ri bastante com a reportagem de Juliana Sayuri, com o título “Bebendo história”. Juliana fala sobre um arqueólogo que, rastreando bebidas milenares conseguiu recriar, pelo menos cinco tipos de cervejas. Olhando direitinho, o mestre cervejeiro, Patrick McGovern, teve uma paciência tão grande quanto à do personagem bíblico, Jó. Duas décadas rodando o mundo em busca das suas convicções, mostra que o homem é persistente mesmo e amante da “lourinha suada” que, para ele, transformou-se em “garota” de várias cores. McGovern saiu recuperando receitas em suas investidas, usando as técnicas de escavações e o aprendizado em análise de vestígios de bebidas. Quer dizer, coisa muito mais elevada de que o faro finíssimo dos melhores detetives. Diz a citada reportagem que foi recuperada receita de até nove mil anos. O mel é sempre um dos ingredientes da “geladinha” que deve ser uma delícia, degustada na varanda de casa, sob as árvores da fazenda ou mesmo naquela roda bebança de amigos. Diz ainda Juliana, que o arqueólogo Patrick McGovern é diretor científico do Laboratório Arqueológico Biomolecular do Museu da Universidade da Pensilvânia. E que o cidadão teria firmado acordo com a cervejaria Dogfish para criar a linha Ancient, só de cervejas milenares.
Ô! Meus velhos amigos sertanejos! Quanto vale uma garrafa dessa cerveja dos tempos do antigo Egito? Você pagaria quanto por um cervejão desses? Que sacrifício do senhor Patrick, para degustar suas fórmulas! A mais antiga seria a de 7.000 anos a. C., achada em uma vila chinesa. Malte, arroz, mel e uva, 10% de álcool, combinação doce à azeda de nome “Chateau Jiahu”. Mas tem também a “Theobroma”, do Peru à base de cacau; a “Ta Henket” e a “Midas Touch”. Sei não! Mas para quem gosta de uma birita aos domingos, acho que esse pesquisador seria muito aplaudido no Brasil, onde a disputa pela “pólvora amarela” não cansa nunca. Bebe-se na rua, em casa, nos bares, nas praças, na pescaria, no aniversário e até em nascimento de menino e velório de padre velho. E esse costume de beber tudo que se encontra pela frente, imagine! Vem da antiguidade, irmão! Agora pense nos diversos apelidos da branca e da loura nas bodegas da Índia, do Egito, da China... E os imortais degustando de taça em taça, de copo em copo, até chegar ao sacrificado Brasil de Cabral!
Geografia, Arqueologia, Geologia, todas agradam a minha vocação natural com certeza, mas ainda não tinha pensando nessa ramificação “bebedoresca” do eminente arqueólogo da Pensilvânia. Sinto não poder chegar a seu escudeiro assistente, quando poderia criar a ramificação arqueológica dos petiscos. Quais seriam os salgadinhos usados pelos nossos antepassados? Amendoim, ovo de codorna, torreiro? De qualquer maneira uma excelente cerveja mumificada de 7.000 anos, já está de bom tamanho! Vamos aplaudir o homem, mesmo com a danada geladinha FALTANDO TIRA-GOSTO.
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