segunda-feira, 27 de dezembro de 2010

O XAXADO DO VICE-PRESIDENTE

XAXADO DO VICE-PRESIDENTE
(Clerisvaldo B. Chagas, 27 de dezembro de 2010)
       Mais uma vez o vice-presidente surpreende a todos na sua bravura contra a doença que o aflige. Um homem com aquela idade, submetido a quase uma vintena de cirurgias, é uma pessoa formidável. Passa a ser positivamente admirável quando a fé inflexível marcha à frente das suas palavras verdadeiramente cristãs. José Alencar, paciente que acabara de perder três litros de sangue, graças a uma hemorragia em lugar escondido, sente-se fraco. Mas um fraco que é capaz de afirmar que deseja descer a rampa do planalto com o presidente Lula. Zomba da própria situação dizendo que depois de tudo ainda quer dançar o xaxado. Quem nos poderá dar exemplo melhor de confiança na misericórdia divina? Enfrentando uma, duas, três emboscadas por dia, lá vai o nosso grande comandante muito mais papa do que político. Que grandeza espiritual ainda encontramos na Terra em raros personagens como José Alencar! Por outro lado, o vice-presidente joga para o alto o estilo em desuso de música nordestina.
       Segundo pesquisas, o xaxado é dança lampionesca criada no Sertão pelo bando de Virgulino Ferreira da Silva, no início da década de 1920. É considerado música de guerra por que seus movimentos eram acompanhados por letras e melodias, cujos temas eram ligados a combates, vinganças e apologias aos valentões. Seu nome origina-se dos ruídos das alpercatas nas areias do Sertão durante os ritmos impostos pelos cangaceiros: xap, xap, xap, era um xaxado medonho. O chefe da fila, geralmente um poeta, improvisava as estrofes e os de trás respondiam em coro. Para dançar o xaxado, o indivíduo avança com o pé direito em poucos movimentos laterais, puxa o pé esquerdo rapidamente e desliza o sapateado. Passos harmoniosos e firmes. A princípio, sem mulher no bando, os cabras dançavam com os rifles ou fuzis como se fossem suas parceiras.
       Mais tarde, o cantor e sanfoneiro Luís Gonzaga imortalizou essa dança retirando-a do anonimato das caatingas, levando-a aos salões do Nordeste e do país. Numa parceria com Hervé Cordovil, Gonzaga lançou a música “Xaxado”, quando uma das estrofes dizia assim:

“Xaxado, meu bem, xaxado
Xaxado vem do Sertão
É dança dos cangaceiros
Dos cabras de Lampião”

       Alencar, na fé assemelha-se aos apóstolos inspirados; no desejo dançante, transforma-se em cabra macho do Sertão. Que bom seria se a humanidade absorvesse o determinismo de Alencar e trocasse a dor pela esperança de XAXADO DO VICE-PRESIDENTE.




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