O
DOIDO E O TREM
Clerisvaldo B. Chagas, 3 de junho de 2016
Crônica Nº 1.525
MARIA FUMAÇA NO MUSEU XUCURU. |
Em Santana do Ipanema ─ nos conta o escritor
Oscar Silva em “Fruta de Palma” ─ havia um doido chamado Caipira. Era perito em
imitar o trem, mesmo não tendo o transporte em Santana. Pedia dois tostões para
comprar cachaça, mas logo vinha à proposta: “Só dou, Caipira, se você imitar o
trem”. E Caipira afastava-se um pouco, enchia os pulmões de ar, batia os braços
como o galo às asas, corria e soltava um tremendo apito igualzinho ao do trem.
Para desenvolver o estado, a linha férrea,
antigamente, cortou os vales do rio Mundaú e do rio Paraíba do Meio, os dois
mais importantes de Alagoas. No primeiro caso, a linha chegou até União dos
Palmares, onde emendou com outra linha de Pernambuco. No segundo, um ramal
partiu de Rio Largo até Viçosa. O povo do Sertão viajava a cavalo até aquele
município para pegar o trem e chegar à capital. Posteriormente a linha férrea
estendeu-se de Viçosa a Quebrangulo. Depois o trem desceu até Palmeira dos
Índios, na década de trinta. Foi muita festa na “Princesa do Sertão” que
aguardava há muito pelo acontecimento. O projeto para o Sertão foi desviado e a
via férrea descambou para as bandas do Agreste até chegar a Porto Real de
Colégio.
Os sertanejos, então, passaram a viajar até
Maceió, indo de caminhão ou de “sopa” até Palmeira, onde dormiam, embarcando no
trem pela madrugada, numa cidade ainda às escuras.
Os trens ajudaram sim a desenvolver alagoas,
transportando gente e mercadorias pelos vales férteis do estado, sendo um escoador
da produção e agente povoador desses mesmos vales, onde se desenvolveram
engenhos, usinas e canaviais.
Hoje tudo acabou restando apenas o moderno
VLT (Veículo Leve Sobre Trilhos), que faz o tripé Maceió, Rio Largo e Satuba. É
uma tristeza histórica se contemplar em Palmeira dos Índios a antiga estação
ferroviária e a máquina Maria Fumaça no Museu Xucurus.
Ao lado da tristeza, a nostalgia dos velhos
tempos do Sertão do doido Caipira.
─ Imita aí o trem, Caipira, que eu lhe dou
dois tostões!
Ê... Mundo velho para rodar!...
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