CSA NO PANCADÃO Clerisvaldo B. Chagas, 14 de dezembro de 2018 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano Crônica: 2.024 ESTÁDIO REI ...

CSA NO PANCADÃO


CSA NO PANCADÃO
Clerisvaldo B. Chagas, 14 de dezembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
Crônica: 2.024

ESTÁDIO REI PELÉ. (FOTO: PREFEITURA/DIVULGAÇÃO).
Tem toda razão a CBF em ditar sua cartilha para os jogos pelos estádios do Brasil. Afinal de contas, à medida que o tempo se moderniza, a exigência se torna maior quando se trata de vidas humanas. No esporte não se faz apenas correr atrás e chutar a “gorducha”, mas de proteger vidas nos grandes eventos paixões do povo. Muitas vezes a filosofia da confraternização dos estádios vira um verdadeiro in ferno com as multidões enfurecidas. E também não é somente a segurança contra a violência que desafia todas as autoridades, mas o próprio conforto do esportista com serviços de qualidade prestados nas partes externa e interna dos estádios. Verdadeiramente é um complexo de medidas para tornar o usuário seguro, confortável e feliz.
Por outro lado, sinto a angústia do time azulino, quando pensa na possibilidade de interdição do Estádio Rei Pelé, o Trapichão, para a série A do futebol nacional.  Imaginemos a luta do clube do Mutange para chegar aonde chegou. Sair da série B para a série A, e não poder mostrar o orgulho em 2019 jogando no sua própria terra, seria uma crueldade e tanto. A preocupação do CSA tem fundamento e nenhum torcedor azulino, como eu, gostaria de se deslocar sempre para fora do estado e assistir partidas que seriam em casa. Estamos aqui em Maceió, pertinho do Rei Pelé, escutando opiniões e desabafos de torcedores, tanto dos passivos quanto dos guerreiros que acompanham sempre o clube pelo Brasil afora.
A repercussão da possibilidade negativa levou as autoridades estaduais a iniciar uma inspeção estrutural no Trapichão. Aliás, se o amigo ainda não sabe, o apelido do estádio, procede dos grandes armazéns antigos, denominados trapiches, que armazenavam mercadorias para embarques e desembarques em navios. Esperamos, assim, que este relatório que será feito sobre as condições do Rei Pelé, não fique apenas no papel. O Centro Sportivo Alagoano e nós merecemos gritar em plenos pulmões na arena estadual. Aliás, o estádio foi erguido no próprio Bairro Trapichão, praticamente, entre a lagoa e o mar.
Já preparou a bandeira?
Todos pela cor azul, em 2019.

LAMPIÃO EM PALMEIRA DOS ÍNDIOS Clerisvaldo B. Chagas, 13 de dezembro de 2018 Escritor Símbolo de Santana do Ipanema Crônica: 2.023 ...

LAMPIÃO EM PALMEIRA DOS ÍNDIOS

LAMPIÃO EM PALMEIRA DOS ÍNDIOS
Clerisvaldo B. Chagas, 13 de dezembro de 2018
Escritor Símbolo de Santana do Ipanema
Crônica: 2.023

31.07.1938. Palmeira dos Índios (AL). Na tarde de julho de 1938, ninguém achou mais jeito de permanecer em casa. Todo mundo de Palmeira estava de olho no alto do cemitério, por onde entravam os veículos que vinham do Sertão. É que após quatro dias da degola chegaram às cabeças dos cangaceiros a Palmeira dos Índios. Imensa multidão concentrou-se na Praça da Independência cercando a viatura que trazia as cabeças dos bandidos em latas de querosene com álcool e formol. Parando, por coincidência em frente ao Açougue Público, o graduado responsável mandou descer as cabeças e alinhá-las na calçada, no chão. Um soldado foi escalado para apresentá-las aos excitados espectadores. O soldado enfiava a mão na lata, puxava a cabeça pelos cabelos, levantavam-na e descia o nome a quem pertencera. Primeiro foi a de Lampião, depois a de Maria Bonita e demais cabeças. A de Luiz Pedro causou admiração por ser uma bela cabeça de homem, com bigode cheio completamente e parecia estar dormindo. A cabeça de Elétrico dava trabalho, por que, entrado há pouco no bando, estava de cabelo curto, era preciso tirar com as duas mãos. O soldado encarregado já tava cansado daquele ritual macabro e disse que só ficava mais um pouco se alguém ajudasse. Todo mundo recusou, mas lembrou de um carregador chamado Pedro Índio e foi procurá-lo. O carregador veio, ouviu e passou o mesmo que o soldado. Cortou-se, porém, na borda da lata e depois, em casa o ferimento infeccionou.
O sujeito ficou febril, recusava comida e não enjeitava cachaça parecendo impregnado. Mesmo se ter recebido um níquel sequer pelo seu trabalho, era tratado com todo desvelo pela sua mãe adotiva Vitalina Maria da Conceição, mas Pedro Índio não resistiu e morreu. Pessoas que pegaram no seu caixão disseram que pesava semelhante a um menino (23).
Telegrama de Palmeira dos Índios para Maceió. 31 de julho de 1938. “Seguido bravos oficiais Bezerra, precisamente dezesseis horas essa capital tenente-coronel Lucena conduzindo cabeça Lampião e demais bandidos mortos combate Angico. Prefeito Francisco Cavalcante”.
De Palmeira dos Índios a Maceió, as cabeças de Lampião e Maria Bonita seguiram de caminhão, chegando à capital à noite do mesmo dia 31. As nove outras cabeças seguiram de trem e chegaram à capital alagoana pela manhã do dia 10 de agosto. (24).


  O REPENTE DA TROVOADA Clerisvaldo B. Chagas, 10 de dezembro de 2018 Escritor Símbolo do Sertão Alagoano “Crônica”: 2.022 ...

O REPENTE DA TROVOADA


 O REPENTE DA TROVOADA
Clerisvaldo B. Chagas, 10 de dezembro de 2018
Escritor Símbolo do Sertão Alagoano
“Crônica”: 2.022

Bem-te-vi anuncia a trovoada
No galho mais fino d’aroeira
Gavião procura a quixabeira
Jararaca escapole da estrada
O macaco se coça na quebrada
O trovão inicia um tiroteio
O cachorro dispara sem um freio
O céu abre na base luz e risco
Um só golpe na força do corisco
Lasca a velha braúna bem no meio.

Quando vem trovoada na fazenda
Espanta marimbondo e mangangá
Se afunila o focinho do preá
O mocó dispensa sua agenda
Urubu não encontra mais merenda
Tanajura alça voo cai no chão
Dá um tempo o mergulho do carão
O muar na cancela é acuado
A raposa vacila no varjado
Perde o rastro as antenas do furão

 A bica amarrada não aguenta
Com o peso da chuva na latada
O gatão dispara na zoada
Um menino se engasga com pimenta
A onça se entoca e fica atenta
A criada escorrega no batente
Relampeia pra os lados do Nascente
O tempo escurece e vira grude
Quando poca as paredes do açude
Um sapão bem gordo vai à frente.

Bate a chuva na terra sobe o cheiro
Que até espinheiro bota flor
De abelha tem beijo e beija-flor
E os cachos mais brancos do pereiro
A jurema, a urtiga, o imbuzeiro
Catingueira, angico e mororó
Por ali canta o galo carijó
Avisando a quem tá de atalaia
Essa noite vai ter rabo-de-saia
O tempero mais forte do forró

Quando cai trovoada é um colosso
Na lagoa improvisa o cururu
Maricota faz doce de caju
O meu cão pega carne larga o osso
A mulher puxa a corda deixa o poço
Enxurrada faz rego na ladeira
Pertinho da porta da traseira
Depois de comer uma pamonha
A patroa faz riso sem-vergonha
Com seu velho pelado na biqueira

No sertão quando desce a enxurrada
Vai lambendo as barreiras dos caminhos
Uma rês se engancha nos espinhos
Tem goteira na telha revirada
O jumento dá popa na baixada
O vaqueiro se abriga no grotão
Cozinheira pita no cachimbão
A patroa risonha bate a saia
Mostra a ele a calcinha de cambraia
E os dois gemem na boca do pilão.

FIM