sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A CALÇOLA DA MUDINHA



A CALÇOLA DA MUDINHA
Clerisvaldo B. Chagas, 23 de novembro de 2012.
Crônica Nº 914
Havia bastante gente na farinhada do povoado Pedrão (é). As mandiocas chegavam em caçuás, trazidas por jumentos e em carro de boi. O monte ficava diante das mulheres que, sentadas no chão, pernas repuxadas, traziam as raízes com as mãos ou com o gume da faca. Aquele processo de raspar as mandiocas causava alegria e, o converseiro era constante. Mais abaixo, naquela casa enorme de taipa, outras mulheres peneiravam a massa num cocho, retirada da prensa por um homem. Lá no forno, um sujeito mexia a farinha com rodo de madeira mostrando muita calma e habilidade.  Dois caboclos fortes e sem camisa manobravam a roda grande que movimentava o caititu (peça de metal) através de barbantes. Ali uma senhorita colocava as raízes para serem trituradas pela peça metálica. Meninos rondavam o forno a procura de “grolados” que se formavam no mexido da farinha. O cheiro gostoso das raízes trabalhadas preenchia o lugar, as narinas de quem trabalhava e de quem surgia pela rua poeirenta. Entre as mulheres da raspagem estava a muda do povoado que também ganhava o seu dinheiro. Naquela farra de palavras e gestos, a muda desatou boa gargalhada. O carreiro Ulisses que passava por ali, perguntou ao companheiro: “Oxente! Por que a muda estar rindo tanto? Terá sido o cordão da ‘carçola’ que se quebrou?”.
Na minha terra, certa mulher do setor de Saúde, deixou que a tolice de um carguinho lhe subisse à cabeça. Para não receber pessoas, faz patim, inventa desculpas e escapole. Como a vida é cheia de gente pobre! Pobre em ações, pobre de espírito, pobre de valores morais e sociais. Pensa na mão na roda de hoje e, o bloqueio impede de saber que a parte de cima amanhã vai para baixo. O tempo passa ligeiro e de repente a cumbuca não tem mais doce. A vida costuma cobrar as ações muito cedo, mas cobra ainda que tardias. É de praxe a indagação do orgulhoso (a): “O que foi que eu fiz?”, na hora do couro. Ainda existe o ditado da sabedoria popular: “Deus não dá de cacete!”.
Infelizmente, compadre, muitos mortais pensam que urinam loção. Retornando a quem nos estávamos referindo, por certo, atualmente, pensa vestir calcinha de ouro, pois já não se fabrica cordão para roupas íntimas como A CALÇOLA DA MUDINHA.

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