CORTANDO A VIDA
Clerisvaldo B. Chagas, 6 de outubro de 2011.
Gerson fazia bolas encomendadas para o Ipanema. Um trabalho artesanal, como ainda hoje, de muita perícia e paciência. Essa segunda bola da evolução do futebol, era de couro e já possuía câmara de borracha. A primeira bola era com câmara de bexiga de boi. Uma vez ou outra perdida, feliz daquele que conseguia ouvir da calçada, melodias na voz do sapateiro cantor.
Hoje as bolas continuam evoluindo. São revestidas de poliuretano, material sintético mais resistente e impermeável. Nunca mudou, todavia, o modo artesanal de costurar e montar os pedaços da bola. Antes continha trinta e dois gomos, agora a bola nova tem 12 gomos. O maior produtor de bola do mundo seria o Paquistão. Apenas vinte fabricantes no globo tinham o selo da FIFA e, no Brasil apenas uma única marca possuía o privilégio do selo. As bolas eram encomendadas aos presídios, cujos prisioneiros tinham remuneração por bola confeccionada. Como curiosidade, quando o Brasil ganhou a primeira Copa do Mundo, as bolas eram do segundo tipo que se usava no time do Ipanema, confeccionada pelo Gerson, isto é, de couro com câmara de ar de borracha.
E eu fico pensando como é que uma danada e simples revista velha é capaz de mexer com os sentimentos da gente. De fazer aflorar lembranças que espezinham o coração e pressionam os olhos. Ah... Saudade... Ali está o Gerson, ex-atleta do Ipanema, cantor quando quer cantar, “mascarado” com razão. Amargurado, corpo grande na tenda pequena, sola na mão, faca amolada, cortando couro, CORTANDO A VIDA.
· CARDOSO, Maurício. Terror de goleiro. Veja, 30 (44): 84-85, Nov.1997.
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